A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

Engana-se quem pensa que feiras do porte de uma Expointer se limitam aos dias de exposição. O trabalho é para o ano todo, e agora está entre as tarefas da primeira mulher a assumir essa missão, Elizabeth Cirne Lima.
Professora, pesquisadora, produtora rural e expert nos relacionamentos que envolvem o mundo do agro, Betty circula com facilidade neste meio e assume a função com o propósito de deixar um legado:
– Meu maior desejo é deixar alinhavada uma história e parceria para que o Parque funcione, tenha vida sustentável todo o ano servindo à comunidade e ao agronegócio. É o que estamos trabalhando forte em paralelo com a Expointer.
Na entrevista a seguir, conheça mais sobre o trabalho da subsecretária:
Como foi receber o convite para assumir a subsecretaria?
A secretaria coordenada pelo secretário Domingos Lopes é uma secretaria técnica. Não é política. Temos um núcleo duro composto por membros técnicos, e fiquei muito feliz e honrada de ser lembrada para esse cargo. Nos conhecemos e nos cruzamos a partir das relações do agronegócio, convivemos há alguns anos pela Expointer, sindicato rural, julgando feiras, escolhendo animais etc. E é um desafio muito legal porque a minha atividade profissional número um é ser professora e pesquisadora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas ao mesmo tempo sou produtora e tenho uma atividade rural. A partir dessa atividade tive envolvimento com a entidade associativa de criadores de Devon e Bravon, fiz parte da diretoria em 2004 e de lá para cá sempre estive envolvida com a entidade, com ações corporativas em defesa da raça, dos criadores e da representatividade, sem perder o vínculo com o campo.
O que representa ser a primeira mulher neste posto?
É um desafio. Fui também a primeira mulher a presidir a Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), o que no meio do caminho é uma história importante. Passei pela Devon e pela Febrac, que congrega todas as raças. Já foi um outro desafio e naquele momento, o secretário da agricultura na ocasião, o João Carlos Machado, colocou a Febrac como uma das copromotoras da Expointer. Lá atrás, então, eu comecei a ter já participação na organização da Expointer.
Foi uma experiência que te deu escopo para o cargo de agora?
Sim. Isso me deu outro nível de relacionamento, de envolvimento com a feira, representando todas as raças, enfim, até questões práticas, como quando foi criado o alojamento dos peões, na minha gestão. Teve uma série de ações que me envolveram na organização na feira, mas de maneira completamente diferente de como estou agora. Hoje, acordo entre 5h e 6h e em seguida estou trabalhando na secretaria, em Porto Alegre, ou aqui no Parque, todos os dias. Isso tem sido bastante positivo no sentido de trazer uma série de experiências e de relações de gestão. É muito mais do que organizar a feira.
No início de maio, tiveste a tua estreia como anfitriã na Expoleite Fenasul. Como foi?
Foi muito bacana. A questão do relacionamento com as pessoas do cenário... conheço todo mundo, todo mundo me conhece, e isso facilita na tramitação. As pessoas me recebem muito bem, tenho bom entendimento não só com a equipe do Parque, mas também com os copromotores, e isso facilita muito o trabalho. Fora o amor que tenho pelo Parque e por essa atividade. Quando recebi o convite do Domingos, eu estava num cargo de direção junto à Universidade, e procurei o reitor para dizer que estava querendo me desligar. Vim cedida da UFRGS para o Estado para exercer essa função, e falei: se tem uma coisa que pega no meu coração é isso, é esse convite, essa minha veia de relacionamento com o agro, que eu gosto muito. Por mais que não tenha sido durante a minha vida a minha atividade profissional principal, é um trabalho que envolve muito da minha paixão e emoção.
Muitos acham que a subsecretaria tem trabalho apenas durante a feira. Como é a rotina?
É muito intensa. Fomos recentemente provocados pela Secretaria de Planejamento e Gestão para mudar o sistema de licitação e contratação da Expointer. Na primeira semana de trabalho nos passaram a demanda e no mesmo dia já começamos a trabalhar um formato diferente. Para mim, foi menos traumático, digamos assim, porque eu não tinha a rotina do sistema anterior, então está sendo muito desafiador e positivo porque estamos conseguindo implementar e cumprir com todas as metas desse novo processo, que é baseado no modelo do South Summit e que otimiza o sistema para o governo como um todo. O Parque é uma subsecretaria, temos todo um “mini cosmos” dentro do parque, um setor administrativo, financeiro, jurídico... como se fosse uma estrutura replicada da sede principal da secretaria de Agricultura. Temos autonomia de gestão aqui dentro que é típica das subsecretarias. E temos uma rotina de processos pertinentes não só às feiras, mas ao Parque.
Qual a maior dificuldade até então?
Uma coisa que tenho como sonho é trazer para dentro da feira algumas atividades. A grande dificuldade que temos é financeira. A Expointer é uma feira superavitária, que se paga e dá um pequeno lucro. A questão é que esse é hoje o único gerador de receitas para o Parque. Tenho um fundo financeiro para gestão, e esse lucro que a feira traz é muito pequeno para fazer a manutenção durante o ano inteiro. Estamos sempre contando com aportes extras ou alguma parceria para fazer a manutenção.
Quais os desafios para a Expointer este ano?
Considero que o nosso maior desafio é fazer uma Expointer que virá, depois de três anos de pandemia, com movimento muito maior por conta da retomada de público. O agronegócio não parou nesse meio tempo, cresceu muito, e apesar das crises e das secas viemos com uma pujança em relação aos anos anteriores, com sede de negócios e encontros presenciais, de geração de novas parcerias, então a feira vem muito nessa expectativa. E ainda trazemos um tempero que é o ano eleitoral, e que sabemos que a Expointer é uma grande vitrine. Mesmo que isso não seja um dos nossos motes de trabalho para a feira, acaba trazendo toda uma movimentação de gestão, de segurança e de administração do evento em si. Certamente será grande, importante, e o nosso desafio é fazer com que ela tenha resultados positivos e que consigamos manejar todas essas mudanças com uma equipe que é nova entre aspas.
O que gostaria de deixar de legado da sua gestão?
Gostaria de deixar, junto com a minha equipe, um modelo de gestão que sirva como exemplo e começo de mudança para a situação atual do parque de ficar fechado nos outros dias em que não há feira. Todo mundo que é gaúcho e mesmo os que não são e que passam pela nossa estrada (a BR-116) e enxergam o Parque fechado praticamente o ano inteiro certamente sentem tristeza de ver essa riqueza subutilizada. Meu maior desejo é deixar alinhavada uma história e parceria para que o parque funcione, tenha vida sustentável todo o ano, servindo à comunidade e ao agronegócio. É o que estamos trabalhando forte em paralelo com a Expointer.