
A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
De Três Forquilhas, no Litoral Norte, para a lista das 100 mulheres mais poderosas do agro elencada pela revista Forbes Brasil. É assim que Micheli Bresolin Jacoby começa a colher os primeiros louros de uma trajetória que iniciou ainda em casa, filha e neta de produtores rurais de banana. Aos 31 anos, ela é presidente da Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (Coomafitt), cargo com o qual carrega a responsabilidade de comandar 286 associados produtores de mais de 80 variedades de alimentos. Mais do que fazer a cooperativa crescer e bater o faturamento de R$ 5 milhões este ano, Micheli quer abrir espaço para mais jovens e mais mulheres.
– É uma conquista para todas nós – celebra.
Conheça um pouco sobre a sua trajetória na entrevista abaixo:
Como começou a tua história com o agro?
Veio desde criança. Meus pais e avós sempre trabalharam com banana, nosso carro-chefe. Trabalhei um tempo no comércio local e depois voltei a trabalhar com os meus pais na propriedade e a gente realizava algumas feiras. Sou formada Matemática (Licenciatura) e fiz um curso de gestão comercial depois que já estava na Coomafitt. Não sou formada em técnico agrícola, nem agronomia, que é o que todo mundo pensa que deveria ser para ser voltado à função. Mas eu sempre vivi por aqui, trabalhei com os meus pais, tem todo um histórico de trabalho com os agricultores na comunidade.
E como foi parar na cooperativa?
Em 2014, saiu um curso do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) de açaícultura. Fiz todo o curso e um dos temas era participar de uma das reuniões da Coomafitt, na época em que a cooperativa estava trabalhando essa questão da participação da mulher. Em 2015, abriu uma vaga para coordenador de produção e estou aí até hoje. Já fui diretora do conselho administrativo, vice-presidente e, agora, presidente.
Como é o teu trabalho, o que tu coordenas?
Me envolvo com a parte de estar olhando os processos, se está tudo funcionando corretamente em cada setor. De conversar com as outras cooperativas para fazer relacionamento e com os associados, visitando as propriedades e vendo as necessidades deles. Também participamos dos conselhos dos municípios para contribuir no crescimento local.
O que representa ser a liderança mais jovem a ocupar o cargo?
Muita coisa! Poder mostrar que a mulher é capaz e que ela tem oportunidade no agro, que é um espaço difícil de se conquistar porque a maioria é homem. Sei porque a gente participa da RedeCoop, que é uma rede com mais de 40 cooperativas no Estado, e nas reuniões são pouquíssimas mulheres. Quando ocupa, é normalmente representando conselho fiscal, ou administrativo. Na presidência, em si, são pouquíssimas. E aí a gente consegue mostrar que é possível. Que somos capazes disso e de muito mais.
Que legado queres deixar ocupando este cargo? No que quer transformar a cooperativa?
Eu quero que ela cresça, mas pensando sempre nos associados e na qualidade de vida das agricultoras e dos agricultores. Esse é um dos objetivos, eles estarem sempre escoando os seus alimentos, como já acontece hoje, e também sempre com esse trabalho de inclusão. Nunca pensar que só o homem ou aquele que tem mais idade que podem participar. Que os jovens têm que estar presentes, que as mulheres têm que estar presentes, e cada um colocando os seus objetivos e contribuindo para um crescimento da cooperativa no geral.
O que pretende daqui pra frente?
Precisamos preparar novos jovens para estarem assumindo. Esse é o objetivo principal, que nunca fique a mesma pessoa por vários anos. Tem que ter essa troca até para pensar novas ações e atividades. Trabalhar não só com a alimentação escolar, mas com mercados privados, como rede de supermercados. Almejamos esse crescimento. Também tivemos alguns trabalhos voltados à exportação, que é outro mercado que queremos chegar.
Como é estar na lista da Forbes, entre poucas gaúchas?
Fiquei pensando: será que é verdade? A gente está aqui no dia a dia fazendo o trabalho e não se dá conta, às vezes, do que está mostrando para fora. É saber que o teu trabalho está sendo reconhecido. Se não fosse a questão do machismo, de excluir as mulheres do processo, a gente poderia estar há anos nesta lista. É uma coisa ainda presente, e no meio rural muito mais. Hoje chego nos agricultores e é completamente diferente a forma de tratamento e a conversa. É uma conquista para todas nós. A participação das mulheres e dos jovens é extremamente importante.