Boa parte do alívio que o consumidor brasileiro teve no bolso com o recuo na inflação brotou no campo e foi às custas da renda dos produtores. No acumulado do ano até agosto, o IPCA subiu apenas 1,62%, taxa mais baixa para o período desde 1994, início do Plano Real, mostrou esta semana o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Energia e combustíveis subiram, mas a compensação veio do grupo alimentação e bebidas, que tem um peso de mais de um quarto na composição da inflação oficial do país. A dobradinha mais comum na mesa dos brasileiros, por exemplo, ficou mais barata. O item cereais e leguminosas, onde estão classificados o arroz e as variedades de feijão, caiu 16,5% ao longo de 2017.
Pelos números oficiais, até assar churrasco ficou mais barato. Calculado apenas em Porto Alegre, o carvão vegetal teve uma deflação de 15,5% de janeiro a agosto. A grande safra colhida este ano foi decisiva para começar a tirar o Brasil da crise.
Os efeitos foram sentidos principalmente no primeiro trimestre, quando o PIB da agropecuária cresceu 13,4%. Inflação em queda significa mais renda disponível para as famílias fazerem despesas básicas, como a alimentação. E foi justamente o consumo das famílias que trouxe a boa surpresa do PIB brasileiro no segundo trimestre.
De quebra, o empurrão do campo ajudou o Banco Central a ter espaço para, ao longo do ano, ser mais agressivo no ciclo de corte do juro.