Ao permanecer firme no cargo de ministra da Agricultura, mesmo após o PMDB ter rompido formalmente com o governo federal, Kátia Abreu demonstrou claramente que sua voz de comando não precisa do apoio expresso de ninguém – nem do setor agropecuário. A decisão provocou reações de entidades ligadas ao agronegócio, que defendem a saída da líder ruralista de um governo que estaria fadado ao fracasso.
– Golpe é você ficar no governo sem apoio de ninguém, por decisão pessoal – criticou o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Junqueira, que participou nesta quarta-feira de evento sobre o Código Florestal, em Brasília.
A SRB já se posicionou favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, assim como a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Para Junqueira, a permanência de Kátia é um equívoco pela falta de consciência de que não há mais espaço para colocar em prática qualquer plano.
– Praticamente todo o setor agropecuário apoia o impeachment. Apesar de ser uma boa ministra, não há mais ambiente político para nada – conclui Junqueira.
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A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entidade que Kátia presidiu até assumir o Ministério da Agricultura, tem evitado se posicionar. Nesta quarta-feira à noite, o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos Sperotto, iria se reunir em Brasília com os presidentes da CNA e da FPA.
– Não teremos um posicionamento político. Mas iremos conversar para ver qual o melhor rumo neste momento – avisou Sperotto, que convocou uma nova reunião de diretoria da Farsul para a próxima semana.
Quanto à postura de Kátia em relação ao governo, Sperotto evita colocar mais lenha na fogueira.
– Ela é autônoma. A Kátia chegou ao ministério com um projeto pronto, da CNA. E está buscando uma maneira para continuar fazendo esse trabalho – disse.
No dia seguinte ao rompimento formal do PMDB com o governo Dilma, a ministra despachou normalmente em Brasília. Pela manhã, participou do lançamento da terceira fase do programa Minha Casa Minha Vida, no Palácio do Planalto. Na cerimônia, foi flagrada pelo jornal Folha de S. Paulo enviando mensagens nas quais afirma que ela e os outros cinco ministros do PMDB decidiram não deixar seus cargos – em acordo que teria sido selado com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). À tarde, publicou no Twitter que continuará no governo e no PMDB.