Há recados de estratégia e de objetivo dados por Donald Trump nas tarifas a importações que começaram a ser estabelecidas no seu retorno à Casa Branca. É importante desde já conjecturar sobre os impactos no Brasil. Confira trechos da entrevista do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com o diretor de políticas públicas e relações governamentais da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), Fabrizio Panzini. Ouça a íntegra no final da coluna.
Acha que a estratégia de Trump seguirá "pé na porta", taxando antes e negociando depois?
É a tônica mesmo. Vimos medidas assim no primeiro mandato dele para ganhar a vantagem na negociação com os países. Não podemos esquecer que, na época, o Brasil foi impactado também, sobretudo em setores exportadores de produtos de ferro, aço e alumínio. Acho que a estratégia é restringir comércio para tentar reduzir o déficit dos Estados Unidos, favorecendo a indústria local.
E vai impactar Brasil?
Quando o presidente Trump tomou posse, foi lançada a política comercial America First. Suas propostas e relatórios serão publicados a partir de 1º de abril sobre como tratar o comércio com alguns países e isso pode reverberar no Brasil também. É bom termos muito claro que são US$ 41 bilhões por ano que exportamos em produtos diversificados, como aeronaves de alta tecnologia e agroindústria, do café a celulose e sucos. O Brasil tem interesse em preservar este mercado.
No mandato anterior, teve o episódio das máquinas lavar importadas que foram sobretaxadas por Trump. Ficou emblemático porque a indústria norte-americana aumentou preço e o cidadão acabou pagando o custo da medida protecionista. Vários estudos de economistas e bancos mostram que não valeu a pena. Cada emprego a mais nas fábricas custou US$ 820 mil à população. Trump recuaria para isso não ocorrer novamente?
A inflação dos últimos anos foi muito importante, inclusive, nas eleições dos Estados Unidos. Há quem diga que ajudou a definir o resultado. Estudos mostram que cada ponto percentual de elevação da taxa de importação leva a 0,1 ponto percentual de aumento da inflação interna. Além disso, as empresas norte-americanas são muito mais integradas internacionalmente. Elas fizeram investimentos em outros países e essas importações ajudam a complementar sua produção, como eletroeletrônicos e automotivo. Então, de fato, é uma agenda que vai ser considerada, tanto de aumento de custo por consumidor, quanto de possibilidade de perda de competitividade das empresas.
E tem recados.
Sim, vamos entendê-los. A política comercial lançada tem o recado claro de que a ideia é produzir mais nos Estados Unidos e atrair investimentos. Então, ainda que a inflação seja uma fonte de preocupação de empresas norte-americanas, não se pode negligenciar este plano e precisamos ficar atentos sobre como esses aumentos de tarifas vão ferir as exportações brasileiras ao país.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Maria Clara Centeno (maria.centeno@zerohora.com.br)
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