
Na semana passada, uma notícia estarreceu os brasileiros — não todos, claro, mas ao menos aqueles que ainda não se deixaram narcotizar pela banalização dos absurdos. Sob o título "Negócios da China: Padilha ganha cargo em associação patrocinada por empresas de saúde", o Portal Metrópoles, em texto assinado pela equipe de repórteres da coluna de Tácio Lorran, trazia a informação de que Alexandre Padilha, o ministro da Saúde recentemente nomeado por Lula, iria “atuar como 'presidente de honra' de associação financiada e apoiada por megaempresas da China que possuem interesses comerciais no governo brasileiro, sobretudo no próprio Ministério da Saúde”.
Resolvi consultar Alter Carlos, o crédulo.
— Tchê, é fake — resmungou o Carlos — Metrópoles é portal de internet. Não faz parte do jornalismo profissional. Coisa de blogueiro. Não cai nesta.
Já havia perguntado ao Carlos o porquê do escracho com que pronuncia “blogueiro” e que critério ele segue para reconhecer alguém como jornalista.
— Jornalista escreve em jornal, papel, preto-no-branco, entendeu? Pesquisa, vai atrás, não faz onda.
Ponderei que a equipe do Metrópoles foi atrás do fato e ouviu todas as partes. Recebi um tsk.
— Se não deu no JN, não é fato.
Fato é que, na diligente reportagem do Metrópoles, tudo se confirma. Em fevereiro, quando ainda era ministro das Relações Institucionais mas já figurava como um dos cotados para substituir a inoperante Nísia Trindade no Ministério da Saúde, Padilha consultou a Comissão de Ética Pública da Presidência — como se alguma dúvida pudesse haver a respeito da incompatibilidade entre seu papel como ministro de Estado e a intermediação ou lubrificação de canais para negócios público-privados.
— Carlos, isso é lobby, concorda?
— Não necessariamente. Se passou por uma comissão de ética, tudo certo, preservou-se a institucionalidade — retrucou meu cordial antagonista.
Ia contar mais sobre nosso diálogo, mas o espaço chega ao fim. Então, para resumir, informo que, com a bênção da Comissão de Ética, a assessoria de Padilha emitiu nota alegando, em tom de “qual o problema?”, que ele foi convidado para ser presidente honorífico da China Hub Brasil “sem desempenhar funções de gestão nem auferir qualquer tipo de rendimento”. Um dia depois da reportagem, porém, Padilha voltou atrás e anunciou que estava “declinando do convite”.