Invocar o absurdo é um dos tantos recursos que jornalistas empregam para capturar a atenção do leitor desde as primeiras linhas. Foi o que fez Alexander Busch, correspondente do jornal suíço Neue Zürcher Zeitung. Em 15 de janeiro, ele publicou no respeitado NZZ uma reportagem em que aponta os abusos de poder, os luxos e nepotismos da elite do Poder Judiciário brasileiro – sugestivamente, a página estampa a foto do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Pois bem. Disposto a chocar seus leitores, Busch abriu seu texto da seguinte maneira, na tradução do jornal Gazeta do Povo:
Este encontro de gente influente na esfera do poder e do dinheiro ganhou um apelido : Gilmarpalooza
“Imagine o seguinte cenário na Suíça: um juiz do tribunal federal o convida, uma vez por ano, para um grande encontro de juristas em um luxuoso resort no Caribe. Entre os convidados estão não apenas metade do tribunal e várias dezenas de advogados influentes, mas também políticos, membros do governo e altos funcionários públicos. O evento, que dura vários dias, é patrocinado por empresas que são clientes dos advogados ou cujos casos estão em julgamento no tribunal. É exatamente isso que acontece todos os anos no Brasil, quando Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), convida pessoas para um evento em Portugal. Mendes é o decano do tribunal, ou seja, o juiz mais antigo em atividade”.
O evento que o Neue Zürcher Zeitung relata já se repetiu doze vezes sob a chancela do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa, “que pertence a Mendes e sua família”. Entre os brasileiros que costumam rir de suas desgraças, este febricitante encontro de gente influente na esfera do poder e do dinheiro, bem longe dos olhos dos brasileiros, ganhou um apelido irremovível. É o Gilmarpalooza.
O jornal suíço registra que, em sua breve defesa, o STF alegou que o evento não gera custos para o tribunal. “Em outras palavras”, conclui o Neue Zürcher Zeitung, “os procuradores e juízes são oficialmente convidados por aqueles que estão sendo processados ou julgados por eles”.
Que nome tem isso?