Dia desses, o Fábio Emerim, famoso professor de inglês da praça, me enviou um vídeo em que um jornalista da Fox americana entrevista uma mulher chamada Lora, ou coisa que o valha. Não sei a respeito do que era a entrevista, mas, no vídeo enviado pelo Emerim, o jornalista cita um trecho da série You em que pessoas são contaminadas por sarampo.
“You”, todo mundo sabe, significa “você”. Então, quando a entrevistada ouve “você”, pensa que o entrevistador está se referindo a ela. E se irrita:
— Eu nunca peguei sarampo!
— Sim, eu sei — responde o jornalista. — Estou falando de “Você”.
— Mas isso é estúpido! — ela reclama. — Eu nunca tive sarampo!
— Não, Lora — ele insiste. — Estou falando de Você! Você!
— O que é isso? O que você está dizendo?
— Estou falando da série da Netflix!
— Como se chama a série?
— Você! Você!
— Eu nunca tive sarampo!
O jornalista acaba desistindo da pergunta:
— Não tenho como explicar isso...
Parece uma anedota, mas é verdade. Lembrou-me de uma amiga minha que fazia um curso qualquer e, logo no primeiro dia, perguntou para uma senhora que se sentava ao lado dela:
— A senhora pode me emprestar uma caneta? A minha falhou.
— Não tem problema — respondeu a outra. — Mas me chama de tu, tá?
Da próxima vez que minha amiga foi conversar com ela, começou assim:
— Ô, Tuta, tu sabes o que...
A outra interrompeu:
— Eu não me chamo Tuta.
Minha amiga ficou constrangida. Tentou consertar:
— Certo. A senhora, por acaso, sabe o que...
A outra interrompeu de novo:
— Me chama de tu, tá?
Louca. Minha amiga teve certeza de que estava falando com uma louca.
Mas voltando à série You, assisti até essa parte do sarampo, que achei muito interessante e até didático.
Agora uma advertência: se você tiver medinho de spoiler, não vá adiante. Desista dessa crônica e vá ler o Peninha. Mas, se você souber enfrentar os dilemas da modernidade, sigamos juntos.
Vamos lá.
Essa série, You, acabou me surpreendendo. Fizeram algo que nunca foi feito antes na história da dramaturgia mundial. Sério. É uma virada espetacular na trama, mas que acontece paulatinamente, naturalmente e, o melhor, com verossimilhança. Fiquei encantado com a criatividade do autor. Mas isso não conto, senão estragará um pouco do prazer que você terá ao ver a série. O trecho do sarampo, porém, tenho de narrar.
Ocorre que o filho do casal protagonista pega sarampo. A mãe, desesperada, pergunta ao médico, no hospital:
— Mas sarampo não era uma doença extinta?
E ele:
— Sim, mas mesmo nesse tempo de covid existem pessoas contra as vacinas, por isso a doença voltou.
Em seguida, ela acaba descobrindo quem são os antivacina que contaminaram seu filho, e as consequências são graves.
Faço esse relato para reforçar que as pessoas que não tomam vacina ou não permitem que seus filhos tomem não são apenas obscurantistas; estão fazendo mal à sociedade. Venho escrevendo a respeito e sempre recebo manifestações antivacina. É espantoso. E, pior, é impossível argumentar contra essa ignorância convicta. O que me convenceu: diante de tamanha legião de cegos, é fundamental exigir o passaporte vacinal. Fundamental. A lei também serve para proteger as pessoas da sua própria estupidez.