Quando o crime organizado se impõe, a melhor resposta é um golpe em suas estruturas. Uma das formas de desidratar o poder destes grupos é tirando daqui quem está no topo, aqueles que, mesmo de dentro das cadeias, continuando exercendo o poder do lado de fora.
Usam celulares para dar ordens, recebem visitas que levam mensagens para fora e têm contato com outros comparsas nos pátios, corredores e celas.
Longe do Rio Grande do Sul, tendem a ficar isolados. Não acaba com a facção, mas obriga a uma reacomodação de forças internas e gera até uma mudança de comportamento: a violência extrema tende a diminuir.
Foi assim depois da Operação Pulso Firme, em 2017, quando 27 presos foram transferidos e, mais recentemente, em março desse ano, com a saída daqui de 18 presos. Por isso, a operação desta segunda-feira (9), que transferiu mais nove detentos, é muito importante.
Ainda assim, cabe uma reflexão: se a maioria destes presos estava na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas, por que eles continuavam tendo acesso à celular? Por que não pode ser aqui, onde o Estado já gasta bastante dinheiro com a Pasc, o ambiente de isolamento destes criminosos? Por que é preciso levá-los de avião, sob escolta de dezenas de policiais, para outros cantos do país?
A resposta é dura e simples: o sistema carcerário gaúcho é precário em estrutura para, de fato, isolar um chefe de facção. Não é fácil nem rápido construir uma cadeia de alta segurança — e o Rio Grande do Sul já não tem uma há muito tempo. Mas enquanto nada for feito, vamos ainda ver ofensivas como a de hoje — que, repito, são necessárias para o momento — sendo adotados por muito tempo, com um alto custo financeiro.