
A banalização do impeachment atinge, às vésperas do último trimestre do ano, níveis incríveis de exagero e desproporção . Eleito com mais de 70% dos votos e novato na política, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, está prestes a perder o mandato. Motivo: ter autorizado a equiparação salarial de procuradores jurídicos do Estado à mesma carreira do Assembleia Legislativa. Os arquitetos do impeachment alegam que ele não poderia ter feito isso sem a aprovação de um projeto de lei. A vida do governador não está fácil. O processo já foi aprovado pela Assembleia e abriu caminho, agora, para a criação de um tribunal composto por cinco deputados e cinco desembargadores. Se mantiverem os votos que deram na tramitação no Legislativo, os cinco parlamentares vão confirmar a perda de mandato.
Resta agora ao governador rezar para que os cinco magistrados sejam contrários. Se o motivo para a cassação é esdrúxulo, qual é ,então, o grande pecado do governador? O mesmo cometido por prefeitos gaúchos cassados recentemente, incapacidade para comandar o Poder Eexecutivo e suas relações tanto com base como com oposição.
No sistema político brasileiro, a construção de uma base sólida no Legislativo é condição elementar para a estabilidade de um governo. O prefeito de Caxias do Sul, Daniel Guerra, terminou precocemente seu mandato com o apoio de apenas 3 dos 23 vereadores da cidade. Em Farroupilha, o prefeito perdeu o mandato em circunstâncias parecidas. Nelson Marchezan, em Porto Alegre, tenta na Justiça manter o mandato e os direitos políticos porque, pela Câmara, ele já teria saído. Esses episódios provam que o isolacionismo pode até ser tolerável no Parlamento, mas, à frente do Executivo, é um pecado capital. Não se trata de permitir o toma lá dá cá ou qualquer outra coisa parecida.
Se governar é a arte de negociar, o chefe do Executivo precisa saber que terá de ouvir, ponderar, ceder se for preciso, avançar no debate, recuar se for necessário, evitar ao máximo o conflito. Quem não souber fazer isso muito bem, melhor não se aventurar, sob pena de ser derrubado rapidinho.