
Num país organizado politicamente, com partidos fortes e sob um sistema eficiente, a pergunta no título seria facilmente respondida. No Brasil, não é assim que acontece. Um teste rápido: qual é o partido do presidente da República? Pela esquerda, qual é o maior partido do Brasil? E de direita? Qual sigla melhor representa os ideais socialistas? Os liberais? Os conservadores? A democracia socialista? O brasileiro médio não sabe responder.
E ao não conseguir encontrar uma resposta ele também não se sente representado. Essa desorganização partidária serve aos que estão no páreo por um cargo eletivo, mas não interessa a quem mais deveria, ao povo. Existem hoje mais de 30 partidos registrados oficialmente na Justiça Eleitoral. Outros pedidos aguardam autorização. Existem algumas explicações para o caos partidário. Uma delas é a forma como os partidos são financiados, com dinheiro público. Todos os anos, o orçamento da União reserva uma verba bilionária para sustentação dos partidos, que é dividido de acordo com o tamanho de cada - os maiores, recebem os valores mais altos. Outra explicação é um fenômeno histórico e relativamente recente: quando caciques se tornaram maiores e mais importantes que as siglas. Lula é um exemplo. Quando ele ficou maior que o PT, o partido passou a funcionar única e exclusivamente em torno dele. O que ele decidia era ordem. Alianças eram feitas e desfeitas de acordo com a vontade dele - que o diga o ex-governador Olívio Dutra, que foi retirado de um ministério para dar lugar a um nome indicado pelo Partido Progressista (PP), ex-Arena. As coligações nas maiores capitais só eram firmadas depois da autorização de Lula. Com habilidade pessoal, o ex-presidente ficou maior que o maior partido de "esquerda", não deixando espaço para sucessão, sempre mantendo seu poder sobre a cúpula.
Em menor proporção, isso também ocorre com outras siglas. No caso do presidente Bolsonaro, aconteceu algo ainda mais enviesado. Em 30 anos, Bolsonaro já entrou e saiu de nove partidos. Nove!
Por mais amaldiçoados que sejam e a culpa é deles mesmo, os partidos organizados são muito importantes para a democracia. São eles que garantem os chamados "freios e contrapesos" para o bom funcionamento do sistema político e atuação adequada dos candidatos. peguemos duas das principais e mais longevas democracias ocidentais, Inglaterra e Estados Unidos. Neste último, a política é dominado por dois partidos, Republicanos e Democratas. O eleitor se sente representando em cada um desses campos pois conhece a sua história, sabe que ideias cada partido representa, se mais ao centro ou mais à direita, se mais progressista ou mais conservador. Num país onde o voto não é obrigatório, a política nos Estados Unidos é tema de altíssima relevância. Lá, até mesmo candidatos sem partidos, independentes, são permitidos. Mas ninguém nunca passou de um terceiro lugar numa eleição para presidente.
No Reino Unido, com os Trabalhistas (Labour) e o partido Conservador (Torie) acontece algo muito parecido. Não é de se surpreender que agora, no início da campanha eleitoral, muita gente ainda torça o nariz com a quantidade de candidatos. Aqui, partidos envergonhados até abandonaram o "P" da sigla ou mudaram as letras por nomes (Podemos, Republicanos e etc. Mudou o nome, o conteúdo é o mesmo). Não sabemos dizer sequer que partidos esses candidatos representam ou que corrente ideológica ele ou ela seguem. Isso só vai mudar quando houver uma reforma profunda na organização partidária brasileira, limitando o número de siglas. Mas isso depende de quem está hoje no Congresso e o sistema atual interessa a quem tem a caneta na mão.