Uma obra de arte é sempre um convite para observar o mundo a partir da sensibilidade alheia. Ainda que alguns artistas consigam criar narrativas geniais que têm pouco ou nada a ver com suas próprias experiências, fatores como geração, nacionalidade, gênero, etnia ou origem social sempre deixam algum tipo de rastro no trabalho do artista. Flaubert dizia que Madame Bovary era ele - e não estava brincando. Literatura é invenção, mas também é observação e contexto. Por mais genial que Flaubert fosse, jamais seria capaz de descrever os tipos e as paisagens do Rio de Janeiro como, por exemplo, Machado de Assis. Há coisas no Rio que só um carioca é capaz de ver ou deixar de ver. Nenhuma das adúlteras famosas da literatura do século 19 foi criada por uma escritora, o que nos leva a imaginar como uma mulher contaria uma história desse tipo. Infelizmente, poucas mulheres escreviam na época de Flaubert e mais raras ainda eram as que encontravam editores ou leitores interessados em saber o que elas tinham para dizer.
Eleição na ABL
Quanto mais artistas de origens diversas, mais ricas são as leituras da realidade
Derrotada pelo cineasta Cacá Diegues, a escritora mineira Conceição Evaristo tornou-se um símbolo da luta pela representatividade na literatura
Cláudia Laitano
Enviar email