
Em um dia muito distante, enaltecemos a rivalidade Gre-Nal e a tratamos como a mola propulsora do sucesso nacional e internacional dos nossos clubes.
É verdade que garantimos, por isso, a entrada dos nossos times na galeria dos grandes clubes do Brasil e isso nos deu muitos benefícios no início da era milionária do futebol.
O fato de termos torcidas imensas sempre nos colocou em um patamar elevado em relação à média dos clubes, e isso, de fato, nasceu nos Gre-Nais e nas suas duras disputas. Mas esse tempo acabou.
O mundo mudou, e a comunicação também. O conceito rivalidade elevou proporções. As estratégias e lógicas da política partidária, antes reservadas às eleições municipais e estaduais, entraram no campo de jogo e acirraram todo o contexto esportivo.
Redes sociais
A informação, antes baseada no relacionamento, virou moeda pela nova estrutura das redes sociais e, por isso, partidos foram sendo montados nos seios do clube, que ganhou muitos adeptos cada vez mais abraçados às narrativas criadas neste contexto.
O mesmo influencer que ataca a oposição em época de eleição no clube, agride quem está no caminho da gestão durante esse período. Seja o adversário dentro do campo ou as pessoas que discordam daquele discurso, verdadeiro ou não.
A orquestra que se baseia nesta lógica transformou a “rivalidade” em ódio e terminou completamente com as relações entre gremistas e colorados, assim como desmanchou, em alguns clubes, o próprio relacionamento interno de torcedores, dirigentes e conselheiros.
Dura rivalidade
Viveremos dois Gre-Nais nas próximas duas semanas e veremos a mais dura das realidades. Vença quem vencer, saberemos que as nossas relações perderam, ou melhor, se perderam.
A força dos extremos é a base do engajamento. De, lado a lado, percebemos que não há trava para narrativas, mesmo que entrem em crimes como uma insinuação de um ato racista por uma das partes do jogo ou insinuar assédio de alguém.
Nada é mais sujo do que tentar incriminar alguém por algo que não aconteceu, e este é apenas um dos exemplos deste novo momento da comunicação Gre-Nal.
Clássico dos influencers
Podemos chamar a disputa deste clássico como o “Gre-Nal dos influencers” (ao qual me incluem), a nova moda do campinho, ou dos "ex-isentos", que também ganham forma dia após dia, mas esses com uma curiosa “demanda reprimida” que precisa sempre ser exposta da maneira mais fanática possível.
É sempre importante, no entanto, olharmos os números e entendermos em que mundo estamos situados.
Cem mil views pra cá, 300 curtidas pra lá, 30 mil simultâneos ali, 15 mil lá, 50 likes aqui, 150 ali... esse é o contexto e a conversa de alguns algoritmos com a sua bolha.
Quando falamos de Gre-Nal e do contexto que ele indica, estamos conversando com cerca de 15 milhões de pessoas, silenciosos anônimos, mas não menos torcedores.
Essa soma é que, de fato, consegue elevar o nosso jogo a um patamar além das dificuldades que os novos fanáticos nos colocam.
Lembro bem do Gre-Nal de 1977. Vestido com a camisa do Grêmio, eu vi André Catimba voar para a imortalidade no jogo que quebrou a hegemonia do Inter no Estadual e digo com toda a franqueza (e tristeza) do mundo.
Ferramenta de ataque
Aquele mundo era melhor que esse e é só sobre isso que estou falando. Quem quiser pensar sobre as duas próximas semanas ou conversar com alguém sobre isso, procure a maioria silenciosa, que ouve rádio, que acessa a internet, que vê o YouTube, mas que não se prende a destilar o ódio como ferramenta de ataque.
Que venham os jogos dos dois times de grande torcida de Porto Alegre, que, um dia, orgulhosamente, foi chamado de Gre-Nal.
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