
Foi com uma bucha, um balaço, um canhão disparado da intermediária pelo equatoriano Enner Valencia, aos 56 minutos, que o Inter sacramentou o título de campeão gaúcho, no Beira-Rio lotado com 50 mil torcedores, na tarde de domingo (16).
O goleiro Tiago Volpi se esticou todo, mas a bola tinha o endereço do ângulo, lembrando tirambaços de Valdomiro, do Príncipe Jajá.
Nem o empate do Grêmio logo em seguida tirou a glória cinematográfica da cobrança de falta. Para o Tricolor, já não restava mais nada a fazer, num placar agregado de 3 a 1.
Grêmio deve ter se arrependido do gol validado por Anderson Daronco no último minuto da semifinal contra o Juventude. Evitaria ter se exposto a duas finais em que se viu absolutamente subjugado pelo rival.
Inter é campeão gaúcho invicto, com 12 partidas, 9 vitórias e 3 empates, melhor ataque, melhor defesa, com quase 90% de aproveitamento. Levou tão a sério o Gauchão que alcançou a perfeição, a simetria, aquecendo as turbinas para a temporada que promete ser inesquecível.
Desde maio de 2023, o Grêmio não sabe o que é vencer o Inter. São sete partidas de superioridade colorada: cinco vitórias e dois empates. Abriu-se uma freguesia.
Para coroar o retrospecto, o Gigante arrebatou a faixa após nove prolongados anos, mantendo a hegemonia de oito décadas no futebol do estado.
O técnico Roger, o combativo Roger, o estrategista Roger se mostrou impecável. Não sentou em cima do favoritismo do 2 a 0 na Arena e pôs o seu time a jogar com a atenção blindada.
Roger não somente executou a matemática com marcação alta ao quadrado, infiltrações pelas laterais, losango vertiginoso no meio, gols ao cubo: humanizou o plantel, fornecendo a gana e a vontade de ganhar.
Liquidou o nervosismo. Acabou com a zica. Resolveu a fobia de decidir campeonatos em casa.
Ao lado do ídolo D’Alessandro e do incansável preparador Paulo Paixão na comissão técnica, demonstrou o dom de formar atletas, em especial para a lateral, em que atuou com tanta propriedade e que o catapultou à seleção na época de jogador. Antes, foi com Bruno Gomes, que se lesionou, e depois repetiu a proeza com o jovem Aguirre.
E não podemos deixar de mencionar o maestro da orquestra, o regente tático, o meia habilidoso: Alan Patrick. Já não existe alguém páreo na função no Brasil. Exibe um virtuosismo clássico, uma liderança de passe, matando saudades dos áureos Carpegiani, Rubén Paz, Falcão. Carrega e toca o piano ao mesmo tempo. É sobrenatural. Imagina espaços onde nós, mortais, não enxergamos.
Assumiu a condição vitalícia de Homem Gre-Nal, com 5 gols e 4 assistências em 13 confrontos.
A gangorra virou. Alessandro Barcellos, desde 2021 no comando do clube, passa a colher o que plantou. Providenciou soluções promissoras com as baixas no departamento médico, e conservou os talentos e contratações de ponta do ano passado, apesar do maior desastre ambiental da nossa história. Se temos hoje banco e opções, o crédito é dele.
Brigou com as dívidas, cunhou um jeito aguerrido de defender suas posições, e apostou na unificação do discurso entre os mais distintos dirigentes e conselheiros. Os resultados de sua gestão começam agora.
O sonho do octa permanece sendo uma realidade apenas colorada. E o Tricolor vai demorar para chegar perto dessa marca novamente, se um dia voltar a chegar.