Não vou falar do Gre-Nal, da decisão do Gauchão, que era o que tanto queria, mas de um homem atropelado numa barreira policial. Pois nenhum título pesa mais do que a dignidade.
O sargento Luiz Fernando Lussi, 34 anos, que atuava no 38° Batalhão de Polícia Militar desde 2019, acabou sendo vítima de um veículo clonado que estava circulando na via e não obedeceu à abordagem policial.
Na contramão, o motorista furou o cerco na BR-386, em Soledade, na Região Norte do Rio Grande do Sul, atropelou Lussi e fugiu do local na madrugada de sábado (8).
Não foi assassinado covardemente apenas um policial que representa a própria sociedade, mas o marido, o pai de um filho de dois anos, o colega da farda, o amigo.
Quantas pessoas tombaram dentro de um único adeus? Quantas famílias arruinadas em poucos minutos? Quantos lutos diferentes numa única cova?
O criminoso estava solto porque existe uma execução branda de nossas leis, existe a cultura das saidinhas temporárias, existe a desculpa permanente da progressão das penas por superlotação dos presídios, não por bom comportamento como costuma se convencionar nas justificativas ilusoriamente humanitárias.
Mais um servidor tem sua esperança subtraída por um estado de inércia, de omissão generalizada e de ancestral impunidade.
Você possui mais direitos matando do que como vítima. Você possui mais direitos roubando do que como vítima.
Já é comum ver presos em flagrante libertos assim que se conclui a ocorrência. Já é comum o lesado sair da delegacia ao mesmo tempo que o seu agressor.
Assim como hoje se morre futilmente na rua por carregar um celular, o policial teve seu futuro cancelado simplesmente por se encontrar de plantão.
O autor do crime, de 24 anos, já contava com histórico de estelionato. Levava a camionete que havia sido furtada em Canoas para revenda no mercado clandestino.
O comandante da Brigada Militar, Cláudio Feoli, está coberto de razão em sua indignação: “Não veremos passeatas clamando por justiça, não haverá manifestações em praças públicas nem grupos organizados exigindo rigor contra os criminosos, nenhuma pombinha branca será solta em nome da paz”.
O fato vai passar batido, na banalização da violência. Não haverá algazarra. Não haverá clamor público. Não haverá mudanças e mais severidade orgânica na aplicação da legislação.
Todos sabemos que policial cumpre a sua obrigação e coloca a sua vida em risco, o que jamais significa que a sua perda não vale nada. É sempre o que parece. É o que fazemos parecer, tragicamente.
Policial não é feito para morrer precocemente. Não é feito para morrer em serviço. Não é feito para deixar filhos sem pai e pais sem filho.
Se isso é a regra, nossa sociedade faliu.
Quem nos protege deveria ser protegido.