
A imortalidade tem um novo nome: gol irregular.
Surtiu efeito a pressão da direção gremista sobre a arbitragem na semana passada, devido ao tácito erro da não marcação de um pênalti a favor do Tricolor no primeiro confronto com Juventude, que poderia ter espichado o 2 a 1 na Arena.
Embora um erro jamais justifique outro, houve a recompensa beneficiando o Grêmio com a grave falha do juiz Anderson Daronco no sábado (1º), na seminal no Alfredo Jaconi, em Caxias.
Com a gritaria, que inclusive trouxe o VAR de fora, o Grêmio saiu lucrando, porque entre um pênalti não marcado, que poderia não ser revertido, e um gol irregular, pesa muito mais o gol consumado.
O Grêmio vinha sendo eliminado por 2 a 0. Aos 51 minutos do segundo tempo, nos acréscimos, o zagueiro Gustavo Martins acertou uma bicicleta, garantindo a sobrevida nos pênaltis.
Só que ele acertou também a cabeça do meio-campista Luis Mandaca, do Juventude. O gol deveria ter sido anulado. O lance representou risco ao adversário. Raspou no rosto de Mandaca. Está na regra: jogo perigoso.
Claro, claríssimo, limpidíssimo jogo perigoso. Não era nem para gerar confusão. É de conhecimento geral.
Ainda que o pé não tivesse tocado na cabeça do oponente, o jogador do Juventude estava antes na bola, contava com a preferência na jogada.
Gustavo Martins chegou depois, e usou o único recurso que tinha para dividir a bola: o voleio.
Ainda que fosse um triciclo, na altura do tronco, precisaria ser anulado.
Juventude foi roubado, num inédito escândalo da arbitragem.
O pé alto é evidente. A marcação do tiro livre direto é escancarada.
Não é questão de interpretação, mas de execução do óbvio. O óbvio não dá margem à subjetividade.
Mas Daronco, talvez com medo de contrariar a equipe gremista que comemorava a salvação, rasgou simbolicamente o regulamento. Ele inclusive realizou o despropósito de conferir o VAR depois de ter apitado, numa ação sem sentido.
O que ele foi ver?
"Mandaca não estava uivando de dor, então posso seguir errando?"
"Mandaca não teve traumatismo craniano, então posso seguir errando?"
"Não foi necessário chamar Samu, então posso seguir errando?"
Exageros à parte, não consigo entender!
O choque expunha potencial para uma lesão séria. Tratou-se de uma atitude temerária, já que Gustavo não se encontrava livre para fazer a manobra.
A omissão comprometeu o resultado da partida, a classificação, abalou o psicológico do plantel caxiense. Regras são inventadas no Gauchão.
Por isso, penso que, mesmo com a melhor campanha, mesmo se apresentando como o único invicto no campeonato, mesmo com a melhor defesa e o melhor saldo de gols, mesmo com o 5 a 1 na soma folgada em cima do Caxias, o Inter é o azarão no Gre-Nal.
Até decidindo em casa, o Inter é a parte mais fraca do sistema. Sofre com o condicionamento da história, uma monumental desvantagem sobrenatural.
Parece que todo mundo quer o octa gremista, espera o octa gremista, torce pelo octa gremista, para equivalência da proeza colorada de 1969 e 1976.
É uma narrativa inebriante que vem nos cegando.