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Era para ser um lugar resguardado. Era para ser um lugar vistoriado. Era para ser um lugar certificado.
Porque não estamos falando de qualquer ponto turístico, mas da Igreja de São Francisco de Assis, um dos principais cartões-postais de Salvador, uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo, fundada no século 18, com o interior revestido em ouro, tombada como patrimônio cultural do Brasil, um dos mais requisitados cenários de visitação do país.
O Governo Federal deveria garantir a segurança no espaço.
Você pode morrer agora por querer rezar. Você pode morrer agora pedindo proteção aos santos. Você pode morrer agora contemplando as imagens de São Pedro de Alcântara, São Benedito, São José, Coração de Jesus, Santo Antônio e São Francisco de Assis no altar-mor.
Houve o desabamento de parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, conhecida como Igreja de Ouro. Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos, moradora de São Paulo, não resistiu. Outras cinco pessoas ficaram feridas no Centro Histórico de Salvador, no início da tarde de quarta-feira (5).
Por algumas horas, a tragédia não aconteceu durante a missa. O segmento que desmoronou é exatamente onde os fiéis permaneciam durante as celebrações.
Em maio de 2023, o governo federal concluiu a restauração dos painéis lusitanos de todo o prédio, porém as melhorias não se estenderam a outras partes do templo, que careciam de manutenção. Não duvido que a comissão técnica do Iphan tenha alertado do alto nível de avaria e periculosidade. Como sempre, descobriremos relatórios tarde demais.
Só no Brasil museu queima, igreja tomba.
A jovem Giulia é mais uma vítima da impunidade. Do abandono do nosso patrimônio. Não sabia onde estava entrando. Não foi informada da gravidade do estado das estruturas.
Ao ingressar no templo, talvez pensasse que as pinturas e teto desgastados, a fiação exposta, as pilastras sem reboco e o piso desnivelado em várias áreas fossem efeitos da conservação do monumento religioso, jamais desconfiou que se tratava unicamente de obra do descaso, colocando em risco a sua vida e a de estudantes em excursões.
Filha de um funcionário público e de uma consultora em agronegócio, Giulia é natural de Ribeirão Preto (SP), onde viveu até completar o ensino médio, antes de se mudar para São Paulo para cursar faculdade. Formada em Publicidade e Propaganda pela ESPM e com especialização na USP, ela atuava há três anos como analista de marketing em uma empresa multinacional de alimentos.
Estava acompanhada do namorado e de um casal de amigos, que sobreviveram porque se encontravam em outro ambiente.
Imagino que ela tenha se sentado nos bancos de madeira e se afastado do seu grupo por alguns instantes para agradecer a dádiva de estar ali.
Realizava o que mais gostava: compartilhar nas redes sociais paisagens e momentos culturais. Fez roteiros parecidos na Itália, Espanha e Croácia.
Foi no Brasil, no entanto, valorizando a arte e a história de sua terra, que viu sua existência ser abreviada. Ou pior, assassinada.