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Já pedalei tanto no Parque do Povo, na zona oeste de São Paulo. Já caminhei e namorei tanto por ali e outro tanto fiquei a esmo, distraído, sentindo a pulsação da vida no coração de São Paulo.
Contornava o parque para admirar a sombra do bosque, torcendo para que o barulho dos pássaros sufocasse a arrancada dos carros.
Já fui incontáveis vezes Vitor Felisberto Medrado, ciclista e treinador.
Ele foi vítima de latrocínio em plena luz do sol, numa impunidade debochada e sarcástica, na manhã de quinta-feira (13).
Qual foi seu erro? Simplesmente estar vivo. Estar parado mexendo em seu celular, em cima da bicicleta, talvez esperando a resposta de algum aluno na calçada da rua Brigadeiro Haroldo Veloso, entre a rua Tabapuã e a rua Napoleão Michel, atrás do Parque do Povo.
Em segundos, foi alvejado por um motoqueiro — o tiro atingiu seu pescoço. Não houve conversa. Tratou-se um assassinato à queima-roupa. Em seguida, um dos criminosos desceu da garupa e revistou a vítima agonizando no chão.
Antes, matava-se em última instância, em caso de reação ao roubo. Agora, mata-se para roubar.
Ele tinha 46 anos, amigo de todos, carismático, empreendedor, conduzia uma empresa focada em assessoria esportiva. Como atleta da equipe de Ribeirão Preto, chegou a ganhar a medalha de ouro nos Jogos Regionais de SP em 2013, na prova de Velocidade por equipes.
Um mês depois, repete-se o suplício a céu aberto que atingiu o delegado da Polícia Civil Josenildo Belarmino de Moura Júnior, 32 anos, morto a tiros em 14 de janeiro, na Chácara Santo Antônio, também na capital paulista, também de manhã, também atacado por motoqueiros, também por um smartphone.
Vitão, como era conhecido, tinha recém escrito em suas redes sociais:
“Viva agora. Use essa coragem para amar, abraçar, pedir perdão, ser gentil, desabafar e não deixar nada pra depois. Anda! Não perca tempo. Se permita ser feliz!”
Felicidade não é mais permitida no país.
Morremos um pouco junto de Vitão, tendo o parque inteiro como testemunha.
Não estamos combatendo o crime. O crime vem nos engolindo sem nenhuma compaixão.