Que 2024 termine logo para o Rio Grande do Sul.
Nossa cidade mais linda, mais turística, mais fotografada, mais filmada, mais cobiçada do Sul do país, que parece cenográfica de tão perfeita, distinguida pelo seu Natal Luz, pelas apresentações e desfiles de encanto e exuberância em seus parques e praças, pela hotelaria e acolhimento exemplares, foi golpeada por uma nova tragédia.
Um avião tombou em Gramado, na Serra Gaúcha, na manhã deste domingo (22), interditando a principal via da cidade, a Avenida das Hortênsias. Atingiu pousada, loja de móveis e casas.
A aeronave de pequeno porte (de matrícula PR-NDN), que havia decolado de Canela com destino a Jundiaí, no interior de São Paulo, transportava 10 ocupantes. Não há sobreviventes.
Todos a bordo pertenciam à família Galeazzi. As vítimas foram o empresário Luiz Cláudio Salgueiro Galeazzi, que pilotava a aeronave, sua esposa, as três filhas do casal, a sogra, a cunhada e o seu marido e seus dois filhos. Eles moravam no estado de São Paulo e teriam ido até Gramado para participar das festividades de Natal.
O acidente causou uma explosão, e o fogo cobriu a aérea central, em meio ao nevoeiro e chuva. Rastros de sangue e cinzas mancharam as araucárias tradicionalmente esbranquiçadas pelos flocos de gelo.
Quinze moradores que se encontravam nas imediações da queda, dois em estado grave, foram levados para o hospital, em especial devido à inalação de fumaça tóxica.
É uma fatalidade sem precedentes na véspera natalina, minando de tristeza, desamparo e pânico um lugar famoso por proporcionar lembranças felizes.
E aconteceu justamente na época mais lotada do município, quando a população de 40 mil habitantes salta para a marca inacreditável de 2 milhões de pessoas, com uma taxa de ocupação hoteleira ultrapassando 90%.
Gramado vem suportando revezes violentos, com épicas manifestações de resiliência da sua comunidade.
Não tem sido fácil manter o comércio funcionando. Não tem sido fácil superar tantas adversidades em sequência.
Primeiro, remediou crateras que apareceram em diferentes pontos da sua cartografia: no bairro Três Pinheiros, no loteamento Orlandi, no loteamento Alphaville e na divisa entre Linha Ávila e o bairro Piratini.
Em seguida, viu-se esvaziada pelas enchentes de maio, a maior catástrofe ambiental da história gaúcha. Mais da metade dos passageiros que desembarcavam no Salgado Filho tomava a sua direção, e o aeroporto permaneceu fechado por longos meses.
Agora precisará se refazer de um trauma desconhecido na região, o de um desastre aéreo.
Apesar de inéditas em nosso território serrano, falhas aéreas têm sido uma constante na aviação nacional. O ano é um marco negativo dos nossos céus, com 41 acidentes letais, resultando em 148 mortes até o momento. Este é o maior número de vítimas da última década, destacando fragilidades na segurança do setor. Representa quase o dobro na comparação com 2023, ano em que 77 pessoas perderam a vida em incidentes aéreos no Brasil.
Recentemente, há quatro meses, uma aeronave da Voepass caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo. Ela fazia o trajeto entre Cascavel (PR) e Guarulhos (SP), e apresentou insegurança mecânica durante a descida, deixando 62 mortos.
Não se sabe ainda o motivo da queda que enlutou o nosso Estado. Não se sabe como o avião foi autorizado a decolar em condições climáticas adversas. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), responsável por investigar ocorrências aeronáuticas, já acionou investigadores do 5º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa V), de Canoas, para o trabalho.
O que se sabe é que ninguém mais aguenta 2024.