Estava conversando com Zé Klein, meu melhor amigo, e ele dizia o quanto se emocionou por ter sido homenageado no Grêmio Náutico União pelos seus parceiros de tênis.
E ele não sabia que era tão importante. Experimentou aquela gratidão inesperada que entope os olhos.
Zé comentou algo valioso: o mais elevado reconhecimento é aquele que acontece fora do palco, sem plateia, sem público, no recôndito de nossa família, no meio de nossos amigos.
É a maior consagração que existe.
Sucesso de verdade é ser festejado pelos seus pares, seus iguais.
Sucesso de verdade é ser estimado pela esposa ou pelo marido. É ser um exemplo para os filhos e um alicerce para os seus confidentes.
A deferência grita mais alto quando você constitui uma referência para o seu reduzido círculo de afetos.
Você pode conquistar fama na sua carreira, na sua função, no seu emprego, angariar troféus, acumular promoções, prêmios e bônus, transformar-se num PhD de uma área, mas nada irá substituir o fato de ser lembrado pelas pessoas que estão ao lado — elas o conhecem realmente, muito além de sua imagem ou seu status.
Nada suplantará a ovação doméstica.
É um privilégio para poucos, para quem cultivou o companheirismo e dedicou seus esforços para o fortalecimento de suas raízes pessoais.
Ainda que trabalhando muito, ainda que viajando muito, ainda que passando o dia na rua, não se esqueceu de estar presente nos momentos decisivos do lar.
Encontrou um tempo para ajudar o filho a estudar para uma prova, encontrou um tempo para ouvir as aflições do cônjuge, encontrou um tempo para dar apoio ao amigo em apuros, encontrou um tempo para o lazer, para o cinema, para o bar, para namorar, para consertar o chuveiro, para trocar as lâmpadas, para regar as flores, para ser parte viva das sombras e dos segredos.
Não há glória tão suprema quanto ser aplaudido dentro da residência.
Ganhará títulos sem faixa e sem medalha nos concursos da convivência, mas que revelam que você se tornou imprescindível: ou o melhor motorista da casa, ou o melhor cozinheiro da casa, ou o melhor barman da casa, ou o melhor churrasqueiro da casa, ou o melhor arrumador de mala da casa, ou o melhor arrumador de bagageiro da casa, ou o melhor dançarino da casa, ou o melhor cantor da casa, ou o melhor conselheiro da casa.
As distinções são distribuídas entre todos da família. Cada um tem a sua realeza em alguma tarefa.
Ninguém longe dali testemunhará seus dons, e tanto faz: já basta o amor recíproco, já basta a confiança correspondida, já basta o tratamento especial que recebe dos mais íntimos.
É menos difícil obter a adoração de estranhos, uma vez que não dormem com você, não acordam com você, não lidam com a sua ansiedade e alternância de humor. Acompanham apenas a sua vida editada, os seus turnos escolhidos a dedo.
Proeza complexa e única é alcançar essa legitimação interior, essa admiração caseira, com a exposição dos seus defeitos, com a aceitação dos seus limites, com a pressa da rotina e a pressão das responsabilidades.
Significa que a teoria e a prática andam juntas. Nunca será duas caras, sempre uma mesma alma.