Janeiro registrou a preocupante marca de nove feminicídios no Rio Grande do Sul. Significa que, a cada 3,4 dias, uma mulher perdeu a vida pelo simples fato de ser mulher.
Um caso em especial chamou atenção pela brutalidade. Em São Francisco de Assis, na Fronteira Oeste, um homem disparou várias vezes contra a ex-companheira. Não satisfeito, ao notar que ela estava sendo socorrida por vizinhos, perseguiu o carro e, na porta do hospital, desferiu mais seis tiros. Uma execução em plena luz do dia, na frente de várias testemunhas, sem qualquer chance de defesa para a vítima.
Não podemos ser cúmplices silenciosos de agressões e mortes
Na busca de explicações para os crimes, há quem diga que são atos de desespero de quem não aceita viver longe do amor de sua vida. A explicação, além de simplista, é perigosa ao tentar fundamentar o injustificável. Quem ama não mata. Quem ama sofre, chora, mas não aperta gatilho, não maneja faca, não estrangula.
O que alimenta os feminicídios é o sentimento de posse do homem sobre a mulher. Como muitos outros países, o Brasil foi construído sobre alicerces machistas. Durante séculos, as mulheres foram relegadas a um papel de submissão, tratadas como seres inferiores, cujas vidas giravam em torno dos desejos e caprichos dos companheiros. Os tempos mudaram. Elas conquistaram espaço, voz e direitos antes sonegados. Mas, para uma parcela significativa de homens, continuam sendo vistas como propriedade. Essas figuras não aceitam que a parceira decida com independência e, muito menos, que ouse terminar um relacionamento e seguir outro caminho. Na incapacidade de lidar com a realidade, partem para a violência extrema.
O total de feminicídios no Brasil só não é maior porque a rede de proteção, ainda precária, vem melhorando. A sociedade também está despertando para o problema. No passado, não interferir nas desavenças de casais era quase um consenso. Havia até um ditado popular afirmando que em briga de marido e mulher, não se mete a colher. Hoje, esse tipo de comportamento não faz o menor sentido. Ao menor sinal de violência masculina, o fato deve, sim, ser comunicado às autoridades. Canais para tanto não faltam, a começar pelo número 190, da Brigada Militar, o caminho mais rápido para pedir ajuda. Não fique calado, denuncie! Não podemos ser cúmplices silenciosos de agressões e mortes.