A retomada da valorização do salário mínimo, com reajustes acima da inflação, trouxe de volta um efeito colateral nocivo para aposentados e pensionistas que ganham acima do piso do INSS: o achatamento dos benefícios. Isso ocorre devido à diferença entre o aumento do piso nacional e o índice de correção das aposentadorias e pensões mais altas. Enquanto o primeiro subiu 7,5%, os ganhos previdenciários foram corrigidos apenas pela inflação, de 4,77%.
Como o piso do INSS não pode ser inferior ao mínimo, ele também incorpora o ganho real, reduzindo gradativamente a sua diferença em relação aos benefícios de valor mais elevado. Em 2021, por exemplo, o teto correspondia a 5,84 vezes o piso salarial do país; em 2025, essa proporção caiu para 5,37.
O problema, embora antigo, tornou-se mais evidente a partir de 2004, quando as centrais sindicais iniciaram uma campanha de valorização salarial. Desde então, aposentadorias mais altas tiveram apenas a reposição inflacionária, com exceção de dois reajustes com ganho real. Como consequência, cresce anualmente o total de segurados que passam a receber apenas o piso previdenciário.
No ano passado, 350.982 pessoas ingressaram nessa faixa, segundo dados do INSS. Os números de 2025 ainda não foram divulgados, mas deverão seguir a mesma tendência. Se o cenário não mudar, pode chegar o momento em que todos os segurados vão ganhar apenas o piso. Não por acaso, atualmente cerca de 70% deles já estão nessa condição.
Embora não exista indexação entre o valor das aposentadorias e o salário mínimo, como ressaltam os responsáveis pela Previdência Social, a Constituição Brasileira, no Artigo 201, determina reajustes que preservem o valor real dos benefícios, o que claramente não está ocorrendo. Essa situação força muitos idosos a buscar trabalho, mesmo em condições precárias, para complementar a renda e manter o poder aquisitivo, uma alternativa inviável para quem enfrenta problemas de saúde.
Enquanto trabalhadores da ativa contam com sindicatos, negociações coletivas e até greves para lutar por aumentos, os jubilados não dispõem de qualquer mecanismo para fazer valer seus direitos. Dependem exclusivamente da boa vontade dos governos e políticos, que frequentemente priorizam outras agendas em detrimento da justiça social. Alguns, inclusive, enxergam os aposentados como um estorvo, um peso morto nas contas públicas, ignorando o trabalho desses cidadãos de cabelo branco pelo crescimento do país. Eles só não verbalizam, mas é o que pensam.