Em novembro, quando estive nos Estados Unidos para cobrir as eleições que culminaram na vitória de Donald Trump, ouvi das pessoas que não estavam interessadas no tema, que tanto fazia o resultado, já que no dia seguinte a vida volta ao normal e o cidadão comum precisa trabalhar da mesma forma, independentemente de quem governa um país. O pensamento não está errado, mas também não é bem assim. Acabamos impactados, querendo ou não, por decisões que não temos para quem recorrer. Se recorremos, dificilmente seremos ouvidos.
Entendo perfeitamente o sentimento do eleitor desacreditado. Acontece aqui também. Quando analisamos os dados de abstenção nas eleições municipais de 2024, é fácil notar que o alto índice de pessoas que não vão às urnas também tem muito desse descrédito dado aos políticos. De fato, nossa vida segue seu curso sem os gabinetes.
Eleger o republicano Donald Trump tinha riscos, mas os americanos entenderam que eram menores do que dar o voto a Kamala Harris. Pesou a ideologia, mas principalmente a economia. Quando a vida do cidadão fica mais cara e difícil, o povo quer mudar. Foi o que aconteceu. A mudança chegará a partir de segunda-feira de forma oficial, mas já dá sinais, e são sinais fortes, ao mundo.
Primeiro, a mão de Trump no acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas. Como disse o diplomata Rubens Barbosa na rádio Gaúcha nesta semana, o novo presidente dos Estados Unidos tem maneiras pouco ortodoxas de pressionar um país e conseguir o que quer. Neste caso, teve êxito nas negociações e começa o governo com este crédito.
Por outro lado, há um retrocesso absurdo chegando a jato e a que precisamos ficar atentos. Diz respeito ao combate à desinformação e a avanços que tinham sido conquistados nos últimos anos para criar ambientes mais diversos em empresas. Engana-se quem pensa que essa é uma pauta da esquerda, é preciso frisar de antemão. Quando grandes marcas como Mc Donalds e Walmart em relação a gênero, idade e raça, por exemplo, a mensagem é de abandono a políticas que incluam essas pessoas. O mesmo ocorre em relação à preocupação com o meio-ambiente, a partir de sustentabilidade e de ações mundiais para frear o que pode desencadear crises climáticas. Cultura precisa de implementação e tempo para ser criada. Há agora, além do que já havia por diversos motivos ideológicos, a volta de Trump, concretizando uma nova postura.
A Meta anunciou na semana passada o fim da checagem sobre as postagens nas redes sob seu cuidado nos Estados Unidos, também se alinhando ao novo momento político do país. Não se trata de censura, mas de não se deixar ser enganado, por mais que a ideia da fake news agrade mais o seu público do que a verdadeira. Vamos ver o que a gestão Donald Trump nos reserva para os próximos anos.