
Pode ter sido coincidência. Mas o primeiro gesto de comemoração de Novak Djokovic, depois de se atirar em quadra e cumprimentar protocolarmente o norueguês Casper Ruud e o árbitro, no jogo que lhe valeu o tricampeonato em Roland Garros e o 23º título de Grand Slam, o que o torna o maior vencedor de competições deste nível, foi o de dar um salto com um soco no ar, como fazia Pelé, como fez Michael Jordan, imagens até hoje icônicas.
Isso quer dizer que Djokovic se considera o Rei do tênis? Só ele tem essa resposta. Mas, é possível dizer que o sérvio de 36 anos está, sim, nessa mesma prateleira, a dos gênios do esporte em todos os tempos. Os números e como ele se comporta em quadra, são prova irrefutável disso.
Talvez uma das melhores definições sobre como é enfrentar Novak Djokovic tenha sido dita pelo americano Andy Roddick, que se aposentou precocemente, aos 30 anos. Em setembro de 2021, já longe das quadras, ele comentava jogos do Aberto dos EUA e escreveu o seguinte em uma rede social: "Primeiro ele te tira as pernas, depois ele te tira a alma". E é exatamente isso que Djokovic faz com seus adversários. Ele vai minando o físico e o psicológico, até atingir o objetivo. E poucos conseguiram resistir a esta combinação. Os que o fizeram tiveram a sensação de algo extraordinário, incluindo Rafael Nadal e Roger Federer, que ao lado dele formaram o chamado Big 3, que nas últimas duas décadas dominou o circuito mundial e aumentou a popularidade do esporte.
Nos últimos anos, a popularidade do tenista sérvio esteve abalada por seus atos fora de quadra, como se recusar a tomar a vacina da covid-19, que redundou no triste episódio de sua deportação da Austrália em 2022, e na impossibilidade de jogar em Wimbledon e nos Estados Unidos, além de algumas polêmicas envolvendo a disputa entre Sérvia e Kosovo, por exemplo. Não é meu papel julgar Djokovic por seus atos fora de quadra, aliás de ninguém, mesmo que vivamos em um mundo onde o tribunal da internet acusa, julga e condena em até 140 caracteres, algo muito semelhante ao que se vive em campos de batalha, onde apenas um lado é o certo.
Conhecer Novak Djokovic é um grande exercício. Excepcional jogador, homem que se recusa a se vacinar, mas ao mesmo tempo embaixador das Nações Unidas para as crianças, pelo trabalho de sua fundação que entre tantas causas assiste crianças e jovens que se tornam órfãos pela Guerra.
E ninguém melhor que o próprio jogador nascido em Belgrado, na ex-Iugoslávia, para falar sobre algo que ele próprio viveu de perto. "A guerra é algo que não desejo a ninguém, é destruição, é perder famílias e pessoas queridas. O lado positivo é que muita gente se une e encontra a fortaleza para superar qualquer coisa que apareça pelo caminho", disse ele em entrevista ao jornal argentino La Nación.