O vôlei e o esporte brasileiro vivem um dos mais tristes capítulos de sua história. Tudo graças a uma publicação, que de inocente nada teve. Afinal, um homem de 35 anos, experiente e que já passou por muitos momentos de pressão, sabe exatamente o que está fazendo. E foi o que fez Wallace de Souza, o oposto do Sada Cruzeiro e que até o ano passado defendia a seleção brasileira.
Foi um erro fazer o que ele fez, perguntando se seus seguidores dariam um tiro na cara do recém-eleito presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva? Sim. Foi justo ser punido ? Sim. Foi incitação à violência? Sim. Enfim, essa é uma discussão que não pode existir. Não é possível confundir liberdade de expressão com facilitação para manifestar ódio, mentir, discriminar. Aliás, é exatamente por isso que temos em debate o projeto de lei 2630, que fala sobre a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet.
Passada esta etapa, veio uma punição imposta pelo próprio clube, outra do Comitê de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (CECOB) e algumas outras questões jurídicas que envolvem o caso. Pois bem, Wallace recorreu e conseguiu liminar.
O CECOB advertiu a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) de que a pena deveria ser mantida e uma guerra passou a ser travada nos bastidores. E, infelizmente, ela superou o âmbito esportivo e ingressou no perigoso terreno político, onde uma espécie de areia movediça vai puxando todos. Foi para lá que o jogador de brilhante carreira foi e puxou parte do esporte brasileiro, causando constrangimento. Afinal, o debate deixou as quadras.
Nesta terça-feira (2), dois dias após o Sada Cruzeiro conquistar seu oitavo título da Superliga, o CECOB voltou a se manifestar e ampliou todas as penas impostas ao atleta, que agora está suspenso por cinco anos.
Isso sem falar no corte substancial do patrocínio do Banco do Brasil à modalidade. Aliás, este corte de recursos determinado pela nova suspensão prejudicará todas as seleções brasileiras de vôlei, de todas as categorias. O preço foi alto demais e a conta chegará no futuro, caso o problema não seja logo resolvido.
Enquanto isso, o Sada Cruzeiro segue reinando dentro das quadras e tendo a certeza de ser inatacável, uma espécie de Flamengo do futebol. Para se ter ideia, a decisão de utilizar Wallace na final da Superliga contra o Minas foi muito bem pensada, incluindo a bola que definiu a partida ser direcionada a ele.
"Quis o destino que o último ponto, o do título e que fechou a temporada, viesse das mãos de Wallace! Se você torceu contra este momento, pense apenas um pouquinho. Você acredita que algo maior, do esporte, pode explicar o merecimento daquele ponto? Na Era do cancelamento, das opiniões absolutas e da polarização extrema, é importante dedicarmos um tempo para entender, compreender. Somos seres humanos, com nossos erros e acertos. E sigamos evoluindo. Todos nós. Que alegria para nossa equipe ter você levantando este troféu, Wallace", escreveu o clube em suas redes sociais.
Ao ler esta postagem fica claro que o Sada Cruzeiro quis mexer no destino e transformar seu jogador em alguém escolhido por algo maior. Não! O clube simplesmente reforçou um posicionamento que não é apenas de Wallace, mas que também passa por seu principal parceiro e simplesmente ignorou que o esporte foi feito para mudar vidas e não para pregar violência, como fez seu camisa 8.
A ferida causada por Wallace e pelo Sada Cruzeiro ao esporte brasileiro ainda irá demorar para cicatrizar.