
Após mais de três horas de audiência pública, com o Plenarinho da Assembleia Legislativa do Estado lotado, as comissões de Agricultura e de Saúde e Meio Ambiente decidiram pedir ao Ministério Público (MP) a suspensão imediata do uso do herbicida 2,4-D no Rio Grande Sul. A deriva do produto aplicado nas lavouras de soja é apontada como a causa de prejuízos nas produções de uvas, maçãs e de azeitonas.
Presente na audiência, o promotor de Justiça Alexandre Saltz, responsável pelo inquérito civil para tratar do assunto, afirmou que a decisão dependerá do governo do Estado.
— Se o governo executar medidas capazes de mudar a realidade, não precisaremos pedir a suspensão. Caso contrário, o caminho será outro. Qualquer medida que for tomada, trará impactos significativos — afirmou Saltz.
No próximo dia 23, encerra o prazo dado pelo MP para que o governo do Estado apresente alternativa.
— Precisamos de uma solução que atenda aos interesses do Estado, antes que a nova safra comece, com critérios técnicos e operacionais — concluiu o promotor.
A audiência pública foi proposta pelos deputados Luiz Marenco (PDT) e Edegar Pretto (PT), autor de um projeto de lei que prevê a proibição do comércio e do uso do 2,4-D no Estado. O parlamentar defende a medida como a única capaz de resolver o impasse.
— Não tem outra saída. Se a proibição não ocorrer, os prejuízos continuarão a aumentar —afirma Pretto.
Professor de Agroecologia da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Robinson Osipe falou pela Iniciativa 2,4-D, que reúne as fabricantes de produtos à base do 2,4-D.
— Qualquer produto que for aplicado incorretamente causará danos, não é uma característica específica do 2,4-D. A questão não é a proibição, mas a penalização de quem usa indevidamente — disse o professor.
Segundo Osipe, o mesmo conflito entre produtores de diferentes culturas ocorreu no Paraná, onde o problema foi resolvido com o treinamento de produtores.
— No primeiro ano do programa Acerte o Alvo, houve redução de 70% da deriva do produto.
Na mesma linha de raciocínio, o vice-presidente da Federação da Agricultura no Estado (Farsul), Elmar Konrad, afirmou que há tecnologia de aplicação e ações eficientes para conter a deriva.
— Suspender o uso criará situação drástica. Existem soluções mais efetivas, sem a judicialização — defende Konrad.
Representando a Associação dos Vinhos da Campanha, Valter Pötter contrapõe afirmando que o problema é muito maior do que os laudos oficiais confirmaram. O produtor apresentou um levantamento meteorológico que mostra as condições adversas na Campanha na primavera — no período de aplicação do herbicida nas lavouras de soja. Para que não haja risco de deriva, a recomendação técnica é de que o produto seja aplicado em momentos em que a velocidade do vento varie de dois a 10 quilômetros por hora.
— No mês, são seis ou sete dias com velocidade média abaixo de 10 quilômetros por hora. Essa situação vai liquidar com a diversificação no Estado.
Presidente da Associação dos Produtores de Maçã no Rio Grande do Sul (Agapomi-RS), José Sozo, falou sobre os milhares de empregos gerados na atividade que estão ameaçados.
— Não existe no mundo um país que tenha se desenvolvido apenas com a monocultura — disse Sozo.