É para os lados do Paraguai que a marca JBS está expandindo suas operações de carne bovina no Mercosul. A empresa, popularizada no Brasil pela pergunta repetida pelo ator Tony Ramos "É Friboi?", anunciou o início da construção de um frigorífico no país vizinho - o primeiro erguido do zero no Mercosul -, onde já tem outras duas unidades, em um investimento de US$ 100 milhões. Com isso, irá dobrar a capacidade instalada atual de 1,5 mil cabeças por dia. Irá gerar mais de 800 empregos diretos e 3,5 mil empregos indiretos.
- O Paraguai tem capacidade que, em relação ao rebanho, de 14 milhões de cabeças, é muito pequena. Deve ter menos de 12 frigoríficos de porte médio e grande trabalhando - explica Miguel Gularte, presidente da JBS Mercosul.
Em passagem por Porto Alegre, onde participou do evento Tá na Mesa, da Federasul, Gularte, falou sobre mercado, preços e expansão no bloco. Confira trechos da entrevista:
Operações no Brasil
A produção bovina é mutito sazonal, obedece a aspectos de demanda e clima. No Brasil, o que se fez foi adequar capacidade para a oferta disponível (fala sobre a paralisação de três unidades). É uma circunstância temporária. Não há, por enquanto, previsão de nenhum outro fechamento. Isso também acontece nos outros países. Na Argentina, concentramos a operação de quatro plantas em uma única, em Rosário, que hoje abate quase a mesma quantidade das quatro plantas, cerca de 2 mil cabeças por dia. A partir do final do ano, serão 2,2 mil cabeças.
Demanda e oferta
Temos o privlégio de trabalhar em um mercado onde a demanda é maior do que a oferta. Houve redução das commodities como um todo e a carne está estável. Por quê? Porque temos demanda superior à oferta. Essa tendência passa, pela contingência que vivemos no Brasil e no mundo, por um processo de estabilidade.
Redução nas exportações
No mercado externo, os grandes compradores do Brasil são países que tiveram alguma turbulência econômica no primeiro semestre. A Rússia, Venezuela, Hong Kong e a própria Europa que, em determinado momento, pela diferença do câmbio, reduziu as importações. A partir da metade do mês de junho, entrou em um processo de recuperação. A Rússia voltou a importar, a abertura da China para as operações brasileiras já começou a ter repercussão. No segundo semestre, esperamos ver o efeito da abertura de carne brasileira no mercado americano.
Mercado americano
O mercado americano tem demanda de forma constante. São margens menores, mas com escala maior. Nossa carne, por ser com menor teor de gordura, vai servir muito para fazer essa mescla com a carne dos americanos. No caso da JBS, entusiasma bastante por duas razões. A primeira, é que temos operação muito forte nos EUA, nossa expertise com a operação americana vai servir para alavancar as exportações. Segundo, porque entendemos que é uma oportunidade interessante para o Brasil potencializar nossa operação nos EUA.
Novas aquisições
Anunciamos nesta quarta-feira o primeiro frigorífico que a JBS irá construir no Mercosul do zero. Em Belén, Concepción. Será uma planta modelo. As obras começam na primeira metade de agosto, com prazo de conclusão previsto para setembro de 2016. São US$ 100 milhões. Temos dois frigoríficos no Paraguai (em San Antonio e Assunción). A JBS é uma empresa que sempre cresceu comprando frigoríficos prontos. Esse é o primeiro que a marca constroi do zero. O Paraguai é um país que tem um crecimento de rebanho elevado e esse crescimento permite ganhar fôlego nas exportações e também no mercado interno. Paraguai passou de US$ 65 milhões exportados em 2005 para US$ 1,2 bilhão em 2014.
Sanidade
Temos uma questão sanitária bem definida. Acho que o Brasil vem fazendo o dever de casa. Ministério da Agricultura e empresas fazem um trabalho muito bom. Tanto que o Brasil está conquistando mercados que não tinha. Isso não acontece por acaso. Os problemas sanitários que tivemos ficaram definitivamente para trás. O produtor também fez o dever de casa. Quanto mais destinos houver, melhores condições, tanto para o mercado local quanto para o produtor.
Com ou sem vacina
Acho que a vacinação deve continuar. É uma proteção que não tem nenhuma interferência na exportação nos mercados que o Brasil pretende atingir. Um dos poucos com restrições é o Japão, mas já se começa a discutir também em terminar com isso. Não tem problema o animal ter memória imunológica feita com vacinação. É um risco absolutamente desnecessário do ponto de vista comercial falar em terminar com a vacinação. O que temos a perder é infinitamente superior ao que temos a ganhar com o fim da vacinação.
Mercado interno
Vejo processo de estabilidade. Fazendo o dever de casa, não será problemático. Acho também que o equilíbrio entre demanda e oferta vai existir, e como vai ter melhora na exportação, faz também enxugamento da oferta no mercado interno. Não vejo movimento de alta no preço.
Carne gaúcha
A JBS criou em São Paulo um nicho de mercado para o Rio Grande do Sul. O produto é vendido como top, de qualidade (na linha Swift Black). São 35 mil a 40 mil animais ao ano que confinamos no JBS em Guaiçara. Esse produto do RS é uma forma de ter a bandeira gaúcha nos principais pontos de consumo de SP. No final, beneficia até o próprio concorrente. Abrimos espaço para divulgação de produto de qualidade cuja origem é o RS.
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JBS tem 22% do share de abate (bovino) e grande diversidade regional, que facilita bastante a operação. O pioneirismo em trabalhar a carne com marca teve efeito fantástico. Conseguimos não só ampliar share no mercado interno, mas ter melhora de valores em relação aos nossos competidores", diz sem revelar valores.