Tradicionalmente, o Rio Grande do Sul é um dos Estados que menos vende a safra de soja de forma antecipada. No atual ciclo, essa postura do agricultor gaúcho tem potencial para se converter em vantagem. Com a previsão de colheita recorde nos Estados Unidos, na Argentina e no Brasil - o que representa oferta abundante do grão -, o dólar valorizado poderá ajudar a compensar a diminuição de receita estimada. Essa diferença é resultado de um cenário com commodities em patamares inferiores em relação ao ciclo anterior e custos maiores.
Projeção feita pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP mostra que o dólar em alta pode aliviar a pressão sobre a receita.
Para lembrar: quando a moeda americana sobe, o produtor recebe, em reais, uma quantia maior, compensando a redução no preço em dólares.
- O efeito do câmbio na contabilidade do produtor deve ser potencializado pelo fato de que as vendas antecipadas estão menores do que no mesmo período da safra passada, e os custos já foram quase que totalmente travados - avalia Lucilio Alves, professor da Esalq e pesquisador do Cepea.
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No momento, as vendas antecipadas da safra 2014/2015 no Brasil acumulam de 20% a 25% do total a ser colhido. Em igual período de 2013/2014, chegavam a quase 50%. No Estado, segundo a Safras e Mercado, não passam de 15%. Até início de janeiro do ano passado, alcançavam 25%.
Quem esperou para negociar o grão pode encontrar um ambiente de venda mais interessante.
- Quando temos excedente interno, o que baliza o preço é a exportação - pondera Alves.
O dólar em alta favorece os embarques e inibe a importação. Em outras palavras, deixa o produto brasileiro mais competitivo.
Levantamento do Cepea aponta que a rentabilidade média dos produtores sobre o custo total caiu de 30% para 15% na comparação de 2013 com 2014, considerando a compra de todos insumos a preços de novembro e venda de produção no mesmo mês, com igual tecnologia. Nove cidades do país são consultadas na pesquisa, entre as quais Carazinho, onde a rentabilidade ficou em 4,4% ante 20,4% em novembro de 2013.