Fotos: Lidiane Mallmann
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Com luminosidade e temperatura controladas 24 horas por dia, um sistema americano de criação de aves começa a se disseminar no país como alternativa para aumentar a eficiência da produção. Chamada de Dark House (casa escura, em inglês), a tecnologia permite ganhos como melhor conversão alimentar dos animais, menor taxa de mortalidade e redução no tempo de alojamento.
O rendimento maior é atribuído especialmente à diminuição do estresse e da agitação dos animais, proporcionada pela temperatura corporal constante e períodos mais longos de baixa luminosidade. O único contato com a luz é por meio de lâmpadas incandescentes, que estimulam os ciclos de engorda e de vida dos animais. Ao mesmo tempo, exaustores controlam a temperatura e evitam gasto de energia das aves.
- O sistema melhora o conforto do animal e diminui lesões na carcaça (a menor agitação evita que se machuquem), resultando em rendimento no mínimo 5% maior aos criadores - destaca Ariel Mendes, diretor de produção da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Os sistemas de regulagem de temperatura e de luz permitem trabalhar com maior número de aves por metro quadrado. A Dark House tornou-se tendência nos últimos anos em Goiás, Paraná e Mato Grosso do Sul. Apesar do custo 10% maior do que em aviários convencionais, o sistema compensa em produtividade.
- Quanto mais rápida a conversão alimentar, melhor é a remuneração do produtor integrado - diz Mendes, acrescentando que a indústria passou a priorizar quem adota o sistema pela maior eficiência na produção.
No Rio Grande do Sul, com uma avicultura mais antiga na comparação com Paraná e Centro Oeste, os investimentos na tecnologia ainda são pontuais.
- Estamos avançando. Neste ano, muitos produtores modernizaram seus aviários e implantaram o sistema - observa José Eduardo dos Santos, diretor-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).
A modernização é o caminho para aumentar a competitividade dos criadores, segundo a Asgav, que representa 10 mil produtores. Antes de adotar o sistema, no entanto, é preciso avaliar as condições e os equipamentos que podem ser implantadas no local, alerta o pesquisador Paulo Sérgio Rosa, da Embrapa Suínos e Aves.
- Climatização confiável é fundamental para o sistema. Não é possível pensar no investimento sem gerador elétrico - reforça.
Para estimular o a modernização das estruturas, o governo federal lançou a linha de crédito Inovagro, em 2013, e ofertou R$ 3 bilhões. Os recursos podem ser utilizados para implantar a Dark House
Bem-estar das aves é contestado
Apesar dos ganhos do sistema Dark House estarem concentrados no maior conforto térmico das aves dentro dos galpões, associações de proteção aos animais colocam em dúvida o bem-estar. Doutora em Zootecnia, Paola Rueda salienta que a maior densidade dentro dos aviários pode comprometer o comportamento natural dos animais. A desconfiança cresce pela ausência de interação das aves com humanos, já que o sistema é todo automatizado.
- Os pintos são criados em ambiente estéril, sem estímulo nenhum. Quando são apanhados para o abate, sofrem estresse muito grande - critica Paola, do Departamento de Agropecuária Sustentável da World Animal Protection.
O resultado desse choque de realidade, conforme a entidade, pode ser maior mortalidade durante o transporte até a indústria e o chamado defeito de carne relacionado ao estresse agudo.
- É como se alguém fosse criado em uma sala escura e climatizada e, de repente, fosse largado na Avenida Paulista - compara Paola, ponderando que é necessário mais estudos para avaliar com maior precisão os ganhos e as perdas do sistema.
O sistema
O Dark House (casa escura, em inglês) foi trazido dos Estados Unidos e consiste em controlar a luminosidade do aviário, com lâmpadas, e a temperatura, com a ajuda de exaustores. O mode lo estimula os ciclos de engorda e vida do animal, reduzindo a energia gasta, a mortalidade, os custos com mão de obra e o tempo de alojamento. Veja a seguir como é a tecnologia e os equipamentos necessários para a estrutura.
Iluminação artificial
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A luminosidade é controlada o dia inteiro, com lâmpadas incandescentes. Os animais passam oito horas com luz artificial e dezesseis no escuro, sendo despertados para consumo de ração e água quando as lâmpadas são acesas. O controle é feito para que as aves não fiquem agitadas e, com isso, tenham melhor conversão alimentar e menos machucados. Na fase inicial, os animais recebem mais luz para se alimentar melhor. A partir dos 26 dias, as aves ficam na penumbra dentro da granja. O objetivo é manter os animais calmos.
Fechamento lateral
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O aviário é isolado com forro lateral e cortinas escuras para impedir a entrada de luz natural. As cortinas e forros devem ser de material laminado, e a qualidade da montagem deve ser impecável para que não fiquem frestas.
Painel evaporativo
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Permite maior eficiência de resfriamento do galpão, com menor perda de carga de energia quando comparado com nebulizador, e reduz a umidade do aviário. É necessário também para escurecer as entradas de ar.
Exaustão do ar
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Os exaustores cumprem funções de troca de ar (arrastando calor, umidade e gases). Os equipamentos devem ser posicionados em uma das extremidades do aviário. Ajudam no controle da temperatura, que não passa de 30°C. A entrada do ar é pelo outro extremo do galpão, passando por um sistema simples de refrigeração e processo evaporativo, o que ajuda no controle da temperatura.
Alimentação automatizada
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A alimentação das aves é automatizada, por meio de uma rosca que leva a ração para os comedores. O sistema permite melhor uso da mão de obra, com um número menor de funcionários. O maior trabalho se dá no recebimento e movimentação do lote até o sétimo dia. Depois, é tudo automático.
Controlador
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É o cérebro de todo a tecnologia. A decisão de temperatura, umidade, necessidade de abertura da cortina da entrada do ar, nebulização, intensidade de luz e sistemas de segurança passam por esse aparelho.
O sistema controla tanto a luminosidade quanto a ventilação dos aviários, proporcionando maior número de aves por metro quadrado.
Limitações do sistema
Energia no meio rural
Qualidade da energia no aviário é fundamental para que os equipamentos funcionem corretamente. O sistema exige ainda geradores para eventuais falhas de fornecimento de energia. São necessários, também, dispositivos de segurança que evitem problemas em casos de emergência, como desarme automático das cortinas e alarmes.
Concentração de amônia
A exaustão concentrada da amônia produzida pelas fezes das aves exige o dimensionamento correto das entradas de ar com resfriadores evaporativos para evitar o sufocamento das aves.
Fonte: Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)
Prós e contras
A favor do sistema
- Menor atividade das aves, o que reduz estresse e produção de calor.
- Menor perda de energia e menor consumo de ração (o que significa melhor conversão alimentar).
- Redução de 1% a 2% na mortalidade.
- Até dois dias a menos no tempo total de alojamento.
- Maior densidade de animais no galpão.
As críticas ao método
- Maior número de animais por metro quadrado pode interferir no comportamento natural das aves.
- Falta de interação com humanos, em razão da automatização do sistema, provoca estresse no momento em que as aves são levadas para o abate.
- Problemas relacionados com o estresse agudo deixaria a carne mais pálida, fraca e Com menos água para reter tempero.
- Falta de estímulos, em razão da ausência de luz solar.
- Necessidade de mais pesquisas científicas para aperfeiçoar o sistema.
Fontes: Paola Rueda (World Animal Protection e Ariel Mendes (ABPA)