
Segunda maior economia do mundo, a China vem aumentando seu poder de influência sobre o transporte comercial marítimo do sudeste asiático - o que afeta diretamente a exportação mundial de alimentos. Principais parceiros comerciais do Brasil, com um população de 1,3 bilhão de pessoas, os chineses responderam por 17,3% das vendas externas no ano passado, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento (MDIC). Os embarques brasileiras à China ainda são concentrados em produtos básicos, com destaque para soja e minério de ferro. Grãos foram o principal item negociado para a China, somando 37,3% da pauta em 2013.
Mas há muito espaço ainda para o Brasil se beneficiar com a demanda do país asiático, a começar pela aproximação nas relações bilaterais e maior conhecimento sobre o mercado chinês. A avaliação é do economista Marcelo Nonnenberg, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Doutor em Economia da Indústria e da Tecnologia, esteve em Porto Alegre para participar do 2º Simpósio da Ciência do Agronegócio, realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Em entrevista (ao lado), Nonnenberg fala sobre as importações da China, os riscos de eventuais confitos geopolíticos e como o Brasil pode avançar na relação comercial com esse gigante mundial.
Confira a entrevista com Marcelo Nonnenberg, técnico do Ipea.
Como as importações asiáticas devem se comportar nos próximos anos, levando em conta o histórico recente?
São mercados que continuarão crescendo a taxas bastante elevadas. A gente olha para os próximos três ou quatro anos, pelo menos, e as perspectivas são bastante favoráveis. Não somente essas economias deverão continuar crescendo a taxas razoavelmente altas, como são também países que estão retirando pessoas da pobreza e aumentando o consumo de alimentos.
A recente desvalorização de commodities agrícolas deverá impactar nos negócios do Brasil com esses países?
Ainda que o preço de alguns alimentos possa continuar caindo em 2015, não acredito na persistência da queda. A gente deve esperar alguma estabilidade de preços dos produtos agrícolas a curto e médio prazo.
Como conflitos relacionados à geopolítica e outros temas podem influenciar no mercado de exportação de alimentos com os países asiáticos?
Os riscos, que não são imediatos, são pelo surgimento de eventuais conflitos dessa região do sudeste da Ásia, que podem ocasionar a interrupção de alguns circuitos comerciais de transporte marítimo. Qualquer conflito nessa região certamente afetaria as importações de produtos agrícolas. É algo que devemos ter no radar, embora não seja algo para acontecer no mês que vem.
A China tem aumentado o poder de influência na zona econômica sobre o mar. Quais os reflexos dessa dominância para o mercado mundial?
A China tem um desejo manifesto de aumentar o seu controle sobre o mar do sul da país, que também tem disputas com o Japão sobre algumas ilhas. A China persegue os Estados Unidos como o país que tenta estabelecer uma hegemonia na área. Então, os chineses se veem na necessidade e urgência de fazer frente a essa tentativa de hegemonia americana, aumentando a sua influência política sobre todos os países da região.
Diante dessas questões, o Brasil deveria ter alguma estratégia para proteger a relação comercial com a China?
O Brasil vai a reboque da demanda mundial. O Brasil é sempre um país comprado pelo outros, nunca é bem vendido. Temos muito a fazer para avançar no comércio internacional com esse grande mercado asiático. Em primeiro lugar, precisamos conhecer muito mais a China do que se conhece. O nosso grau de informação sobre os chineses ainda é pequeno, tendo em vista que se trata do nosso maior parceiro comercial. Nós poderíamos fazer muito mais investindo na China. Há muito a avançar ainda nas relações econômicas bilaterais.
De que forma o governo federal e o Itamaraty podem avançar nessas relações bilaterais?
Aumentar o conhecimento sobre a China ajudaria muito. E não estou falando de informações que já são de conhecimento público. É muito mais do que isso. O idioma, por exemplo, é uma barreira gigantesca. Os chineses não falam inglês, falam mandarim ou cantonês. Apoiar iniciativas de empresas que queiram investir na China seria importante, ao mesmo tempo acompanhar potenciais investidores chineses no Brasil e prospectar negócios. As visitas e contatos de governo a governo ainda são muito escassas.
* Zero Hora