A produção de fumo no Estado costuma permanecer como atividade de uma mesma família ao longo de diferentes gerações. O que não significa que essa cultura não esteja se reinventando por meio de novas tecnologias e para enfrentar pressões diversas (como de mercado e antitabagistas). Mudanças sugeridas pela indústria e por produtores se tornam solução para diferentes problemas econômicos, produtivos e socioambientais. Para identificar as tendências do setor, o Campo e Lavoura buscou a
ajuda de especialistas para indicar o que deve se consolidar nos próximos anos.
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Diferentes culturas na mesma propriedade
Investir em diferentes produtos agrícolas para aumentar a renda da família é uma ação que se consolida entre os produtores de tabaco. Essa tendência decorre de fatores bastante lógicos: reduz gastos por meio de culturas de subsistência (como leite,
hortaliças e frutas), pode ser fonte de matéria-prima para manter a propriedade (como ração animal) e permite aumentar e distribuir melhor os recursos (a venda do fumo
ocorre apenas uma vez ao ano).
- Há 10 anos, o fumo representava 67% da receita da propriedade. Atualmente, é 56%, o que evidencia a diversificação - diz o presidente da Associação dos Fumicultores do
Brasil (Afubra), Benício Werner.
Entre as iniciativas colocadas em prática está o programa RS Mais Grãos, do governo estadual, que libera crédito para adaptação das estufas de fumo para a secagem de grãos. A ideia foi baseada no Programa Milho e Feijão após a Colheita do Tabaco,
criado pela Souza Cruz, que completa 30 anos. Segundo a empresa, o projeto alcançou cerca de 70 mil produtores nos três Estados do Sul no ano passado.
Além de promover melhor aproveitamento das instalações já construídas, como as estufas, que costumam ficar ociosas nove meses por ano, o programa estimula o plantio de grãos na entressafra do fumo.
- Os fumicultores já têm renda garantida com o tabaco. Com o estímulo à adoção de outras culturas, terão dinheiro o ano todo - prevê o secretário estadual da Agricultura,
Luiz Fernando Mainardi.
Em Venâncio Aires, Sanges Klafke, 45 anos, utiliza a própria estufa de fumo para secar e armazenar os grãos. Para isso, a única diferença na estrutura entre a secagem de tabaco e a de milho é um pano.
- É muito fácil, basta colocar um pano de algodão, uma tela de sombrite ou pode ser qualquer coisa que impeça o grão de cair das grades - explica Klafke.
Além da adaptação da estufa, o produtor deve cuidar na temperatura do espaço. Enquanto as folhas de fumo exigem regulagem entre 90ºF e 165ºF, dependendo da etapa de cura, o milho requer em torno de 130ºF. Detalhes de manejo como esse devem ser repassados pelos próprios técnicos das fumageiras. A partir de fevereiro, eles serão treinados pelo programa RS Mais Grãos para poder repassar as informações aos agricultores.
VANTAGENS DA ADAPTAÇÃO DE ESTUFAS
1) Distribuição dos ganhos: o armazenamento de grãos permite ao produtor escolher o momento ideal para a venda, o que pode proporcionar um aumento médio de 15% nos preços.
2) Qualidade garantida: usar o próprio grão dá segurança sobre a qualidade do produto.
3) Redução das perdas: estimativas do governo apontam danos qualitativos e quantitativos em torno de 20% a 30% nas etapas pós-colheita (transporte, secagem, armazenagem, processamento e comercialização).
4) Alternativa de renda: com milho estocado, o agricultor pode investir em atividades como leite, suínos e aves, gerando recursos o ano inteiro.
5) Custos menores: deslocamento e armazenamento externo custam pelo menos o dobro do que armazenar na propriedade.
As escolhas do futuro
Produtor de tabaco aposta na diversificação
Investimento em outras culturas melhora renda, reduz custos e atende à demanda do mercado
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