A Estrada Geral que faz a ligação entre as cidades de Arroio dos Ratos e São Jerônimo, na Região Carbonífera, apresenta estrutura precária e tem prejudicado moradores, principalmente aqueles que precisam transitar com pacientes para o hospital de São Jerônimo. O trecho tem 5,7 quilômetros de extensão, nenhum deles com asfalto. As duas prefeituras dividem a manutenção (4,8 quilômetros em São Jerônimo e 900 metros em Arroio dos Ratos). As gestões municipais garantem que obras de pavimentação começam antes do final do ano.
GZH percorreu toda a estrada de terra batida nesta sexta-feira (29) e percebeu diversos buracos que obrigam os motoristas a diminuir bruscamente a velocidade. A situação é agravada em períodos de chuva – quando o trecho também tem pontos com acúmulo de água (veja nas fotos acima).
— Quando tá chovendo, a gente tem que andar a 10 quilômetros por hora para conseguir passar. Se chove dois dias seguidos não tem condições de pegar a estrada — afirma o técnico de informática Felipe Leal, que utiliza a via para se deslocar entre casas de clientes da região.
O trajeto é percorrido diariamente por dezenas de caminhões de carga, carros e ônibus que necessitam chegar a ou sair de São Jerônimo, cidade da região que oferece maior diversidade de serviços. Além de uma universidade e do Fórum Regional, o município abriga o Hospital Regional de São Jerônimo. Por isso, a rota também é utilizada por ambulâncias que, mesmo na urgência de encaminhar um paciente, precisam desacelerar para evitar acidentes ou problemas mecânicos.
Motorista dos veículos de emergência, Mateus Longaray enfrenta essa rotina todos os dias ao deixar a Unidade de Pronto Atendimento de Minas do Leão. Segundo ele, são frequentes os casos de veículos que estragam a caminho do hospital, em razão das más condições da estrada.
— Estraga seguido, porque não tem amortecedor que aguente essa buraqueira. Quando isso acontece com um paciente dentro tem que chamar outra (ambulância). Isso costuma demorar de 30 a 40 minutos — explica Mateus, que divide o trabalho com uma equipe de mais três colegas.
Ainda que na maioria das vezes os trajetos das ambulâncias sejam concluídos sem ocorrências graves, funcionários do hospital reconhecem que a falta de infraestrutura na estrada interfere na saúde dos pacientes. A enfermeira Laís Matzenbacher, coordenadora da UTI do hospital, afirma que, muitas vezes, a demora no deslocamento faz com que um paciente sem gravidade tenha piora nas condições físicas. Antes de trabalhar na instituição, acompanhou pacientes que vinham de Arroio dos Ratos a São Jerônimo, principalmente gestantes.
— Já tive de vir pra cá (hospital) tendo que fazer trabalho de parto no meio do caminho, para acelerar o processo — diz Laísa.
Ela ainda relata ter vivido a agonia de ver uma pessoa próxima necessitando de internação hospitalar e sem poder utilizar o caminho mais curto.
— Na pandemia, minha mãe teve que ser levada de ambulância para o hospital e teve que fazer um trajeto maior, porque tinha muito buraco. E ela teve que ficar mais tempo em estado grave dentro da ambulância. Isso prejudica muito — conta.
Evitar a Estrada Geral não é tão simples, especialmente para quem precisa chegar ao destino com rapidez. Na saída de Arroio dos Ratos, uma das alternativas é utilizar a Estrada Júlio Latosinski, conhecida como Estrada do Areal, trajeto que costuma levar 15 minutos a mais. No entanto, a via também é de chão batido, o que acaba não resolvendo o problema dos motoristas. Por isso, a solução para seguir por caminho pavimentado é percorrer a BR-290 até o entroncamento com a RS-401, e seguir pela rodovia passando por Charqueadas. Segundo moradores, o caminho alternativo aumenta em cerca de 40 minutos o tempo de deslocamento.
Problema antigo
Como a solução demora, as pessoas que vivem nas margens da estrada tentam se adaptar aos problemas de deslocamento. A agricultora Berenice da Silva vive na área há 12 anos e costuma enfrentar os buracos duas vezes ao dia.
— Tem vezes que, por causa do barro, as crianças não conseguem se deslocar para a escola. Eu uso o carro para ajudar vizinhos e tenho ido frequentemente para Arroio dos Ratos ver meu pai que está doente. Não tem sido fácil — reclama.
Segundo ela, durante mais de uma década, poucas ações foram feitas para melhorar as condições da via.
— A única coisa que eles fizeram foi arrumar os bueiros. Mas, no resto, continua tudo tão ruim como antes.
Prefeituras prometem obras ainda neste ano
Os municípios de São Jerônimo e Arroio dos Ratos reconhecem os problemas e afirmam estar trabalhando para modernizar o trajeto. O prefeito de São Jerônimo, Evandro Heberle (PSDB), estima que a estrada de chão batido exista há cerca de 100 anos, mas não sabe explicar o motivo da falta de investimento ao longo da história.
— Não consigo responder pelas outras gestões. O que eu posso dizer é que durante os seis anos do meu mandato busco alternativas para resolver essa situação, e devemos ter em breve — promete.
O otimismo de Heberle tem relação com uma verba de R$ 3 milhões liberada pela União em 2021 para ser utilizada em melhorias na Estrada Geral. Acredita-se que o valor seja suficiente para asfaltar dois quilômetros da estrada. As prefeituras de São Jerônimo e Arroio dos Ratos pretendem financiar dos próprios cofres um incremento na obra, com o objetivo de pavimentar pelo menos metade da rodovia a curto prazo.
— Com esses R$ 3 milhões, mais o valor que a prefeitura de Arroio dos Ratos está viabilizando, e com os nossos recursos, acredito que teremos asfalto na estrada ainda neste ano — prevê Heberle.
O valor liberado pelo governo federal é oriundo de emenda parlamentar, de autoria do deputado federal Lucas Redecker (PSDB). Segundo ele, o dinheiro para as obras já está garantido, mas ainda passa por processo de autorização na Caixa Econômica Federal. Pela legislação, o valor só pode ser liberado para a execução dos trabalhos após o fim do período eleitoral.
— Esse é um pleito antigo que vinha tentando viabilizar, pois é uma estrada importante para a região. Por muito tempo tentamos torná-la estadual ou federal, mas não conseguimos. Por fim, foi possível viabilizar a ampliação das emendas — explica Redecker.