Por Felipe N. Moura
Sócio-fundador e CTO da On2.dev, empresa de desenvolvimento de software
É indiscutível que a chegada do 5G ao Brasil vai revolucionar o jeito como nos conectamos. Mas não há como fugir do debate: essa revolução também escancara a desigualdade social brasileira quando, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), mais de 300 municípios do país ainda nem recebem sinal 4G. Quem, na prática, poderá aproveitar os benefícios da nova tecnologia?
No mundo ideal, em que as oportunidades chegam para todos, a distribuição do 5G seria realizada de forma massiva. Contudo, caminhamos a passos lentos nessa virada de chave tecnológica. Estamos implementando a quinta geração da conexão enquanto milhares de pessoas seguem isoladas do ambiente digital, seja por falta total de acesso à informação via internet ou por não ter o mínimo de alcance por meio de gerações anteriores, como 2G e 3G.
Além disso, sabemos que a tecnologia só funcionará em aparelhos e planos de telefonia que estão adequados à novidade, e não é todo mundo que tem poder aquisitivo para trocar de smartphone durante uma crise econômica. A boa notícia, pelo menos, é que, assim como suas antecessoras de transporte de dados, a cobertura 4G segue em funcionamento nos dispositivos atuais. E, com o tempo, a expectativa é de que os novos modelos de celulares incorporem, desde a fábrica, a compatibilidade 5G.
Apesar das problemáticas sociais relacionadas à implementação, precisamos reconhecer o progresso tecnológico que vivenciamos somente nos últimos 30 anos. Entre os vários ciclos de mudanças, tivemos uma internet muito lenta nos anos 1990 e no final dos anos 2000. Com o surgimento da internet discada, mais empresas passaram a fornecer o sinal e alavancaram, depois, o uso da banda larga. Até que chegamos ao advento dos smartphones e da internet móvel. A verdade é que traçamos esses avanços somente porque o aumento da velocidade da internet nos proporcionou alçar voos mais altos.
Não era possível assistir a um filme da Netflix em celulares antes de existirem os smartphones. E, mesmo quando estes já existiam, era inviável rodar qualquer vídeo sem uma internet rápida. Hoje, com a cobertura 4G e a evolução da internet móvel, o entretenimento está a um palmo do nosso olhar. E não é só no streaming de filmes e séries que o 5G vai agir a partir de agora.
A tecnologia exponencializa diversas possibilidades de vivência digital porque, resumidamente, traz uma velocidade cem vezes maior para baixar e enviar arquivos, reduzindo o tempo de resposta (latência) entre diferentes dispositivos para apenas 1 milissegundo e tornando as conexões mais estáveis, além de permitir conectar muitos objetos à internet ao mesmo tempo.
Social e tecnologicamente falando, isso significa que devemos dar um salto nas experiências virtuais, misturando cada vez mais as realidades que conhecemos. A rapidez na transferência de informação de dados vai impactar na escalada e na transformação dos conteúdos: veremos ainda mais aplicações em realidade aumentada, realidade virtual, streaming de jogos, telemedicina, indústria do cinema e outras áreas que surgirão futuramente.
A tecnologia vem sendo testada desde 2010 em outras partes do mundo. Por isso, é importante lembrar que não sentiremos todos os seus efeitos em sua máxima potência neste início de implementação. Entretanto, é fato que o 5G veio para ficar e trazer mais conectividade entre múltiplos devices dentro das mesmas redes. Afinal, vivemos na era da internet das coisas (IoT), e tudo acaba por se conectar à internet de uma forma ou de outra, o que abre muitas portas e afeta diretamente a nossa vida.
Com esse novo marco, resta aguardar que a população sem acesso a gerações anteriores de conexão seja finalmente contemplada pelo 4G. Do contrário, estaremos afastando cada vez mais as pessoas em vez de conectá-las, o que deveria ser o básico em uma sociedade interligada.