
Com 10% do total de ativos em ciência e inovação no país, de acordo com levantamento realizado pelo Observatório Nacional da Indústria, o Rio Grande do Sul superou o número de mil startups em 2022 e vem em um acelerado movimento de expansão.
O Rio Grande do Sul ocupa o 1º lugar no ranking de inovação entre os Estados brasileiros, de acordo com levantamento do Centro de Liderança Pública (CLP), e Porto Alegre está entre os cinco ecossistemas emergentes mais promissores para startups da América Latina. No Estado há pelo menos 18 parques tecnológicos e 44 incubadoras. No Rio Grande do Sul também existem variados ambientes educacionais, intelectuais e culturais, criando um cenário ideal para impulsionar empresas, avalia o presidente da SUCESU-RS, Henrique Portella.
Conforme Portella, o Estado consegue, com esses atributos, posicionar-se no cenário nacional de forma diferenciada. Não é coincidência, explica o dirigente da Sucesu-RS, que representa os profissionais da Tecnologia da Informação, que as empresas que estabelecem uma relação mais integrada entre a gestão e a área de TI se sobressaem no desenvolvimento de novos negócios e fortalecem as parcerias já consolidadas.
Historicamente, o Estado é pródigo em tecnologia e inovação. Em parte, isso se explica pela própria construção étnica e cultural do Estado. O acúmulo de conhecimento dessa herança multicultural, aliado a um sistema de Ensino Superior bem estruturado e pulsantes institutos de tecnologia fazem com que as empresas se beneficiem com o que há de mais avançado em transformação digital.
Um estudo do Gartner, referência global em análises sobre tecnologia e negócios, apontou os principais focos dos CEOs de grandes empresas em 2024 e 2025. Em primeiro lugar, está o crescimento dos negócios (62%) e, logo em seguida, a TI (33%), à frente de quesitos como custos operacionais e eficiência. O resultado mostra que os líderes estão atentos ao fato de que a tecnologia permeia todo o processo de desenvolvimento.
Portella chama atenção para outras nuances deste mercado, como a “economia silenciosa”, formada por profissionais que trabalham em solo gaúcho para empresas de diversas partes do mundo e bem remunerados.
– Um jovem recém formado, às vezes, ganha R$ 20 mil por mês e gasta (o salário) aqui, movimenta a economia, mas os governos ainda pensam em como vamos criar terreno para uma grande fábrica, enquanto temos essa fábrica silenciosa funcionando – compara o presidente da Sucesu-RS.
Technow é espaço para networking e negócios
Com 56 anos de atuação, a SUCESU-RS trabalha para oferecer conhecimento e representação às empresas que utilizam a tecnologia da informação em qualquer âmbito. Para conectar esses profissionais, a entidade promove o Technow, um evento que combina conteúdo e networking em dois dias de intensas trocas.
– O Technow nasce da percepção da falta de um evento com foco em tecnologia da informação no Rio Grande do Sul. Hoje, os profissionais de TI precisam sair do Estado para se atualizar. Este é um evento focado na TI como motor da inovação, permitindo que os profissionais se encontrem, reconheçam seus pares e façam networking sem sair do estado – explica o presidente da SUCESU-RS, Henrique Portella.
O evento começa no dia 24 de abril, com o Technow Líderes, dedicado a gestores de empresas para debater o uso da TI em suas rotinas e como ela pode alavancar negócios. Já no encerramento, a palestra de Gil Giardelli dá início à programação do Technow Pró, aberto a todos os profissionais de TI.
Giardelli é professor, escritor, palestrante e especialista em inovação e inteligência artificial. Com mais de 27 anos de experiência, ele leciona na Stanford e Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA. O Technow se estende até o dia 25, no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre, com palestras e atividades sobre temas como inteligência artificial e segurança da informação.

Saiba mais sobre o Technow
● O evento tem início no dia 24 de abril, com ciclo de palestras (acesso restrito a convidados)
● A programação da noite de 24 de abril, porém, é aberta mediante inscrição prévia – assim como a agenda do dia 25, quando serão realizadas palestras e troca de experiências sobre IA, segurança da informação, desenvolvimento de software e outros temas
● Os ingressos para o Tecnohow custam R$ 250, e a inscrição deve ser feita no site www.sucesurs.org.br
No comando da SUCESU-RS, entidade que representa a área de tecnologia da informação, Henrique Portella vê antagonismo na forma como o setor e seus profissionais são vistos pelo mercado. Apesar de fundamentais, os especialistas em TI ainda são subutilizados pelas empresas. Por outro lado, ele avalia que o mercado avança de forma acelerada na inserção da TI na gestão das empresas. Em entrevista, o executivo fala do cenário gaúcho de TI, do mercado de trabalho e de tendências setoriais.
O que diferencia o ecossistema gaúcho de tecnologia e inovação no cenário nacional?
Inovação e tecnologia necessitam, muito, de capital humano e conhecimento, e temos esses ingredientes, com qualidade e em quantidade. Estivemos, porém, um bom tempo adormecidos. Quando acordamos nos últimos anos, no entanto, foi de uma forma fantástica. A sociedade se mobilizou, sediamos o South Summit, temos o Instituto Caldeira, o Tecnopuc e outros centros de tecnologia.
Diria que com esse avanços históricos, deixamos o atraso no passado.
Nossa herança multicultural nos agrega algo extremamente necessário em um ambiente de inovação. A formação do nosso território por povos diferentes nos traz visões complementares. Temos um sistema de educação bem desenvolvido e instituições ligadas à TI bastante atuantes e somos celeiro de grandes empresas de cunho tecnológico,
O que é tendência em tecnologia, que veremos daqui a um tempo na indústria, varejo, agro, enfim, e o RS está saindo na frente?
Três pequenas histórias mostram de onde estamos indo e para onde gostaríamos de ir e temos as possibilidades.Há dez anos, conversando com um grande empresário de TI, ao falar sobre o setor e sua importância para os negócios, ele ouviu atentamente, mas rapidamente olhou para o lado e perguntou para um economista como o economia nacional e internacional estaria no próximo ano.
Ou seja, a TI era um assunto secundário para os grandes líderes empresariais. Hoje, não há líder que não perceba a relevância da tecnologia para qualquer negócio. Uma pesquisa do Gartner cita que entre as principais preocupações dos CEOs, a primeira é o crescimento da empresa e em segundo lugar a TI, na frente de contenção de custos, por exemplo.
Como se comporta esse mercado de trabalho e como ele é visto pelos jovens e por seus pais, por exemplo, que são de uma geração mais analógica?
Tenho mais de um amigo cujos filhos trabalham de seus quartos, atendendo empresas na Califórnia, Londres, no mundo todo. São jovens recém-formados e que movimentam a economia, mas até pouco tempo nossos governantes raramente apresentavam um programa pensando em estimular e desenvolver esse mercado ou ações para facilitar a contratação de gaúchos.
Há jovens que são procurados por grandes empresas, mas a maioria tem seu foco em profissões tradicionais. A TI ainda não é percebida como uma profissão viável para a maioria deles, mesmo com recém-formados trabalhando em um mercado onde não faltam oportunidades. Talvez ninguém tenha falado para eles, com clareza, o que fazem esses profissionais e que conhecimentos precisam ter.
Como a TI ajuda no crescimento das empresas
● Saiba quais tecnologias e softwares empresas do seu segmento estão utilizando e compare com o posicionamento do seu negócio frente ao cenário setorial nacional e internacional, e os gaps a serem trabalhados.
● Avalie como a diversidade cultural brasileira pode ajudar no desenvolvimento de ferramentas baseadas em Inteligência Artificial, por exemplo. A diversidade evitará posionamentos a partir de um único ponto de vista, como o racial.
● Busque critérios técnicos na adoção das tecnologias mais apropriadas para o perfil e os objetivos de cada empresa, sem se deixar levar por modismos ou fazer investimentos além do necessário.
● Comece um processo de integração entre profissionais de TI e demais colaboradores. A área de TI deve atuar de forma transversal para compreender melhor as necessidades de cada equipe e encontrar as soluções mais adequadas.
● Tenha a inovação alicerçada em um rígido processo de governança, garantindo segurança e ética no tratamento das informações.
● Busque conhecer entidades representativas do setor, como a SUCESU-RS. A integração entre profissionais e setores de TI com outras empresas, alimenta um ecossistema de inovação e fomenta o crescimento da economia como um todo, com ganhos múltiplos para todos os atores.