A ocorrência de um fenômeno raro, que só se repetirá em 2032, não foi suficiente para convencer as nuvens a se afastarem e permitirem a observação. A nebulosidade frustrou os curiosos que procuraram os observatórios astronômicos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) nesta segunda-feira (11), para conferir em Porto Alegre o trânsito de Mercúrio — quando o planeta fica perfeitamente alinhado ao Sol e à Terra. Confira abaixo vídeo do fenômeno.
— A astronomia amansa o homem. Tem que ter paciência, especialmente em uma cidade úmida como Porto Alegre — reconheceu o físico Claudio Bevilacqua, do Observatório Astronômico da UFRGS, enquanto olhava, entre desanimado e perseverante, para a imagem cinza captada por um telescópio e projetada em uma caixa revestida por um papel branco.
O fenômeno só pôde ser visto por telescópio e, mesmo assim, com um filtro, para que a retina não queimasse ao observar o Sol diretamente. O evento astronômico se deu das 9h35min às 15h04min.
Em razão da distância e do tamanho diminuto do menor planeta do Sistema Solar, seria difícil que desavisados percebessem que aquele pontinho preto passando em frente ao astro rei era Mercúrio, mesmo nos escassos momentos em que o Sol aparecia. O público de 12 pessoas que aguardava durante a manhã para testemunhar o fenômeno no Observatório da UFRGS, porém, vibrou quando aconteceu.
— A astronomia é magnífica. É uma ciência maravilhosa — comentou Natália Arruda, 25 anos.
Estudante de Medicina Veterinária na UniRitter, a jovem conta que se apaixonou pelas estrelas ao observá-las a olho nu, no céu de Bagé, e pelo telescópio de seu tio. Seu sonho é cursar Astrofísica na universidade federal.
Persistência para conferir
Após em torno de 40 minutos sem que o fenômeno se apresentasse, Natália era uma das três persistentes a continuar no local. Outro era Gustavo Lorensi, 25 anos, mestrando em Matemática Aplicada na universidade federal.
— Fiquei sabendo sobre o trânsito de Mercúrio e vim aqui prestigiar e já conhecer o observatório, que eu nem sabia que existia — afirmou, acrescentando que, até então, só sabia existência do Planetário da universidade.
O trânsito de Mercúrio é uma espécie de pequeno eclipse, que acontece quando o planeta passa exatamente entre o Sol e a Terra. A sombra do corpo celeste, contudo, é mínima, uma vez que seu tamanho é 194 vezes menor do que o do disco solar. O evento astronômico é testemunhado entre 12 e 13 vezes por século e foi visto pela última vez em maio de 2016. Agora, vai levar mais tempo até que ocorra novamente: a próxima data é novembro de 2032.
Antigamente, quando não havia satélites, o fenômeno possuía uma importância científica fundamental, pois permitia que astrônomos calculassem a distância entre o Sol e a Terra e, por consequência, entre Mercúrio e o Sol e entre a Terra e Mercúrio. Hoje em dia, serve para popularizar assuntos ligados aos astros e para confirmar padrões de tempo e espaço projetados em teorias.