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Uma camiseta com frases escritas à mão foi encontrada pela Polícia Penal após inspeção na cela de Deise Moura dos Anjos. Na mensagem, a mulher diz que não é "assassina". Ela foi encontrada enforcada dentro da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na quinta-feira (13).
De acordo com a Polícia Civil, alguns papéis com rabiscos e cartas também foram deixados pela suspeita. Os documentos serão analisados pelas autoridades e podem ser incluídos como provas no inquérito e já haviam sido citados pelo chefe da corporação, Fernando Sodré, em entrevista ao Conversas Cruzadas, na quinta.
Deise é suspeita de envenenar com arsênio a farinha utilizada em um bolo consumido por familiares do marido dela em Torres, no Litoral Norte, na véspera de Natal. A polícia também investiga se ela matou o sogro, que morreu em setembro de 2024, após consumir bananas e leite em pó levados à casa dele pela nora.
A mulher estava presa temporariamente desde 5 de janeiro. Ela ficou um mês no Presídio Estadual Feminino de Torres. A prisão foi prorrogada pela Justiça e, em 6 de fevereiro, ela foi transferida para Guaíba por questões segurança.
A mulher estava sozinha na cela e usava o uniforme de detenta. As circunstâncias da morte serão apuradas pela Polícia Civil e pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP). A corregedoria-geral do sistema penitenciário instaurou uma investigação interna para apurar se houve algum tipo de falha.
Defesa de Deise dos Anjos diz que houve falta de acompanhamento psicológico
Advogados relataram que a mulher não teria recebido bem a informação de que o marido tinha a intenção de encaminhar pedido de divórcio e ameaçado tirar a própria vida, o que teria sido compartilhado com agentes da casa prisional; Polícia Penal nega que tenha sido comunicada.
Segundo advogados, agentes foram avisadas sobre a ameaça dela de tirar a própria vida, após ter sido informada que o marido havia pedido o divórcio. A Polícia Penal afirma que "não se tem conhecimento de qualquer comunicado da apenada ou de sua defesa sobre risco de suicídio".
Em relação aos psicólogos no presídio, a Polícia Penal confirmou que havia apenas um profissional, embora outros dois estivessem sob atestado. Conforme a Polícia Penal, profissionais de outras casas prisionais prestavam suporte às apenadas em Guaíba.
Quanto às intenções de Deise serem comunicadas para agentes penitenciárias, a Polícia Penal disse, em nota, que há um protocolo a ser seguido e que a mulher não havia demonstrado intenção de tirar a própria vida, tendo recebido três atendimentos psicológicos em uma semana.
Alega, no entanto, que não houve comunicação sobre as intenções de Deise tirar a própria vida.
"Não se tem conhecimento de qualquer comunicado da apenada ou de sua defesa sobre risco de suicídio". diz a nota.
Sepultamento
O corpo de Deise foi liberado pelo Instituto Médico Legal (IML) na noite de quinta. O velório ocorreu na manhã desta sexta-feira (14), em uma cidade da Região Metropolitana. A cerimônia foi restrita a poucas pessoas.
Relembre o caso
De acordo com a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde na antevéspera do Natal de 2024, quando seis começaram a passar mal após consumirem pedaços de um bolo. Um deles não ingeriu o doce. Zeli dos Anjos, que preparou o alimento, em Arroio do Sal, e levou para Torres, também foi hospitalizada.
Três mulheres morreram em intervalo de algumas horas. Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada cardiorrespiratória, segundo o hospital. Neuza Denize Silva dos Anjos teve como causa da morte divulgada "choque pós-intoxicação alimentar".
Deise era casada com Diego Silva dos Anjos, filho de Zeli, e morava em Nova Santa Rita, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
A apenada era suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada.
Defesa alega falta de acompanhamento psicológico
Os advogados de Deise afirmam que haviam informado à direção da penitenciária dos riscos. A defesa também diz que fez vários requerimentos para que a mulher recebesse atendimento médico e psicológico, principalmente depois que foi transferida para Guaíba. A Polícia Penal não confirma os contatos.
A instituição afirma que Deise "recebeu três atendimentos psicológicos na Penitenciária de Guaíba, além de dois atendimentos com a equipe de saúde". Informou ainda que três psicólogos fazem o atendimento, e que "a rotina de inspeção é permanente", com revistas diárias nas celas.
A cela que Deise ocupava tinha cama, vaso sanitário, chuveiro e pia, além do uniforme prisional, roupas de cama, livros, cartas e objetos de higiene pessoal que não ofereciam riscos, segundo a instituição.
O que diz a Polícia Penal
"A Polícia Penal informa que a apenada Deise Moura dos Anjos recebeu três atendimentos psicológicos na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, além de dois atendimentos com a equipe de saúde. Na unidade, três psicólogos estão lotados para fazer atendimento.
Informa ainda que a rotina de inspeção é permanente, com a presença de servidores da Polícia Penal próximos às celas. Assim como em outras unidades prisionais, são feitas conferências em diversos momentos durante o dia. Além disso, agentes penitenciários realizam revistas diárias nas celas.
Cabe destacar que, desde 2019 até o final deste Governo, será investido R$ 1,41 bilhão de reais na reestruturação do sistema prisional gaúcho, viabilizando assim a construção de novas unidades prisionais, aquisição de equipamentos e novas tecnologia. Além disso, foram nomeados, desde 2019, mais de 3900 servidores para a Polícia Penal."