Mais de duas centenas de pessoas se reuniram nesta quarta-feira (22), no cemitério de Taguatinga, no Distrito Federal, para dar adeus a Daniel Abreu Mendes. Escrivão da Polícia Civil do Rio Grande do Sul desde 2023, ele teve a vida abreviada aos 40 anos, após ser alvejado por dois tiros disparados por um adolescente na terça-feira durante cumprimento de mandado de busca e apreensão em Butiá, na Região Carbonífera.
A despedida teve início por volta das 15h e terminou perto das 17h30min, com uma homenagem feita pela Polícia Civil gaúcha e do Distrito Federal. A honraria contou com mensagens de apoio à família, discursos, toques de sirenes e três salvas de tiros de fuzis contra o chão, tradicionalmente feitas quando algum servidor da segurança pública é abatido em serviço. Além disso, bandeiras da Polícia Civil e do Estado do RS também foram entregues simbolicamente à família de Mendes.
— Esse é um símbolo do amor que nós temos pela instituição (Polícia Civil), do amor que nós temos pelo trabalho que exercemos, mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos, que muitas vezes são muito duras como essa de hoje. Tenho certeza de que esse símbolo (a entrega das bandeiras) vai representar todo esse carinho e amor que o Daniel tinha pela profissão — disse o chefe de Polícia Civil do RS, delegado Fernando Sodré, durante a homenagem.
Entre os presentes, familiares, amigos, representantes da segurança pública e autoridades lamentavam a perda precoce do policial. Algumas pessoas vestiam camisetas brancas com uma foto de Mendes e dizeres de luto.
— Foi uma cerimônia muito emocionante, muito triste. Um policial novo, de 40 anos, com pouco tempo de polícia, que morreu exercendo o ofício. Isso é muito triste e todos os policiais sentem muito quando isso acontece — ressaltou o delegado Lúcio Valente, do Distrito Federal, que acompanhou a solenidade.
Segunda homenagem
Esta é a segunda homenagem feita a Mendes, que também foi lembrado em uma cerimônia intimista realizada na terça-feira (21), no Palácio da Polícia.
Na ocasião, centenas de policiais, de diversas cidades do Estado, assim como autoridades prestaram condolências e seguiram, em comboio, até o Aeroporto Salgado Filho, de onde o corpo do escrivão foi transladado até Brasília, de onde é natural.
Estiveram presentes o governador Eduardo Leite, o secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, o chefe de polícia do RS, delegado Fernando Sodré, e o subchefe de polícia, delegado Heraldo Guerreiro. Todos deixaram breves palavras à família da vítima.
"O Rio Grande do Sul não se curvará ao crime sob nenhuma circunstância. Vamos superar este momento e sair ainda mais fortes", escreveu o governador em suas redes sociais após a solenidade.
O crime
Segundo informações do chefe de Polícia Civil do RS, delegado Fernando Sodré, um dos alvos da ordem judicial era uma mulher de 26 anos investigada por tráfico de drogas. Ao chegar no local para cumprir o mandado, houve reação por parte de um morador da casa, que disparou contra o policial.
O escrivão chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Segundo a Polícia Civil, o agente estava com colete à prova de balas, mas foi atingido pelo tiro na lateral, onde não há proteção. Ele também foi baleado no pescoço.
— A polícia chegou lá, avisou que era polícia, ele sabia o nome da moça. Mesmo assim esse rapaz disparou. Na casa foram encontradas armas e drogas — disse Sodré.
Conforme Sodré, uma criança de apenas seis anos, filha da suspeita, estava no local no momento do crime. Ela foi atingida de raspão na cabeça, mas passa bem.
Segundo o delegado regional de São Jerônimo, Nedson Ramos, os disparos foram efetuados por um adolescente de 17 anos, que seria companheiro da mulher que era alvo da operação. Ele explica que a pistola semiautomática usada pelo rapaz tinha um carregador estendido que a transforma em uma “metralhadora”. A arma não tinha registro.
A mulher foi presa em flagrante. O adolescente apontado como atirador foi apreendido por tráfico de drogas e ato infracional análogo a homicídio.
Segundo o delegado Fernando Sodré, o adolescente já havia sido apreendido outras duas vezes: em 2023, por ato infracional análogo a homicídio, e em 2024, com uma arma.
Trajetória
Daniel Abreu Mendes era natural de Ceilândia, umas das cidades-satélites de Brasília, e estava na Polícia Civil do RS desde 9 de maio de 2023. Ele entrou na corporação na última turma de concursados.
O policial trabalhou em Tapes antes de ir para Guaíba. A operação de combate ao tráfico de drogas é da Delegacia de Butiá, com apoio da Delegacia Regional de Guaíba, onde ele trabalhava.
— É uma perda. Todo policial é uma grande perda. Para nós, é uma perda muito grande na estima — disse o delegado Ramos.
Pessoas próximas o descreveram como "um cara sorridente, alegre e sempre fazendo piada".
A delegada Karoline Calegari, titular da DP de Guaíba, lamentou a morte do colega. Ela diz que ele era uma pessoa bem-humorada e prestativa.
— Era um grande policial, baita colega, extremamente espirituoso. Está todo mundo especialmente abalado porque se ele estivesse aqui, ele seria a pessoa que estaria tentando animar a todos — comenta a delegada.
Mendes deixa a esposa e uma filha de 15 anos. As duas estavam em Brasília, passando férias, quando aconteceu o crime.