Em depoimento no qual se declarou solteiro, Diego Silva dos Anjos disse mais de uma vez à Polícia Civil não acreditar que a esposa, Deise dos Anjos, tenha envenenado a farinha usada no preparo do bolo que matou três pessoas de sua família. Diego foi ouvido por mais de cinco horas na delegacia de Arroio do Sal, na última segunda-feira (20).
Apesar da incredulidade na culpa de Deise, pela primeira vez Diego detalhou aos policiais o episódio em que teria sido envenenado pela mulher. O administrador de empresas disse que estava trabalhando no escritório de casa, na tarde de 16 de dezembro — uma semana antes do envenenamento coletivo em Torres —, quando tomou suco de manga oferecido por Deise.
Ao encerrar o expediente, por volta das 18h, logo sentiu-se mal. Diego correu para o banheiro e quase não conseguiu segurar o vômito “muito estranho e violento”.
— Mesmo tendo vomitado como nunca antes, não imaginei que o suco pudesse estar envenenado — disse à polícia.
Embora desde a morte do pai, em setembro, fizesse tratamento para tratar uma bactéria na mucosa do estômago, Diego apenas tomou Olina e não procurou atendimento hospitalar. Em outubro, ele já havia passado por uma infecção estomacal seguida por dias contínuos de febre.
Pouco mais tarde, ele mesmo pegou a garrafa da geladeira, onde estava ao alcance de todos, e serviu um copo ao filho de nove anos, acompanhado de uma torrada. Duas horas depois, o menino também vomitou. Na madrugada, o garoto voltou a regurgitar, mesmo durante o sono.
Deise levou o filho para um pronto-atendimento e Diego ficou em casa, pois ainda sentia desconforto. No local, a mulher publicou nas redes sociais um pedido de orações com a foto da criança tomando soro. Aos policiais, Diego disse não ter visto a mulher forçando o menino vomitar, mas ressaltou que ela provoca o próprio vômito com frequência.
"Deise sempre foi briguenta", diz marido
Administrador de empresas e há 16 anos trabalhando em uma multinacional de implementos agrícolas, Diego reconheceu aos policiais que vive um casamento tumultuado. Ele confirmou que as desavenças começaram logo no início da relação, por brigas de Deise com a sua mãe, Zeli, e uma prima dele, Tatiana, ambas contaminadas pelo bolo com arsênico.
Por duas vezes, porém, ele disse não acreditar que a mulher possa ter colocado o veneno na farinha. Todavia, admite que, se Deise tivesse intenção de matar alguém, seria a sogra, Zeli.
— Deise sempre foi briguenta, se irritando com situações pequenas de outras pessoas — afirmou Diego, relatando também “tretas em redes sociais” mantidas pela esposa.
Segundo ele, há quatro anos a esposa lhe contou ter tentado suicídio ingerindo “um monte de remédio”. Deise, porém, jamais teria proferido a palavra arsênio na sua frente. O administrador disse que só tomou conhecimento do vocábulo em 26 de dezembro, quando um médico disse-lhe que a substância havia sido detectada nos exames dos familiares hospitalizados em Torres. Deise estava ao seu lado não exibiu nenhuma reação que despertasse suspeita, lembrou.
Desde a morte do pai, em 3 de setembro, também contaminado com arsênico, Diego vinha cogitando pedir divórcio. Ainda não havia comentado nada com Deise, pois ainda pensava nos trâmites formais e na situação do filho.
— De certa forma, o filho segurou o casamento — resumiu.
Em conversa com um advogado na terça-feira (21), um dia após prestar depoimento, Diego pediu para que fosse preparada a papelada do divórcio.