Portas fechadas, expedientes encerrados mais cedo e sons de sirene ecoando pelas ruas. Ações estranhas à rotina da cidade de Rolante — município com 21 mil habitantes no Vale do Paranhana —, mas que davam nesta segunda-feira (2) indicativos do medo sentido pela população após a chacina ocorrida na madrugada de domingo (1º).
Moradores e comerciantes temem que ações semelhantes se repitam no município, em represália ao crime que resultou na morte de quatro homens: Elias Vargas da Rosa, 22 anos; Pablo Rafael Machado de Oliveira, 23; Michael Rodrigo Emmerich, 35; e Everton Danei Hadlich da Fonseca, 40.
Alguns estabelecimentos nas proximidades da cena do crime nem abriram nesta segunda. Outros fecharam as portas mais cedo. Os assassinatos foram cometidos em frente a um condomínio popular, no bairro Rio Branco.
No residencial, ainda era possível ver um carro, modelo Palio, de cor preta, com dezenas de marcas de tiros. Segundo a Polícia Civil e a Brigada Militar, foram feitos cerca de 120 disparos contra as quatro vítimas.
Djonatan Leonardo, 19, mudou-se para Rolante há cerca de três meses, com o intuito de trabalhar na área de saneamento. Morador do condomínio em frente à cena do crime, ele agora só pensa na data da mudança. Móveis e roupas já foram separados para que a saída ocorra rapidamente.
— Estou me mudando para a casa dos meus avós. A cidade é pacata e não vinha tendo qualquer problema [...]. Agora, eu só quero sair logo e ficar na rua o menor tempo possível — diz.
Tereza Schmidt, 69 anos, mora na cidade há quase quatro décadas e afirma não ter visto algo semelhante neste período. Ela e o marido, Régis, temem que a onda de crimes influencie na relação entre os moradores.
— Nossa cidade é hospitaleira, mesmo que seja pequena. Esse crime deixa todo mundo apavorado e algumas pessoas já evitam até conversar na rua ou nas lojas — avalia Tereza.
Até julho deste ano Rolante não registrou mortes por crimes violentos, segundo as estatísticas da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-RS). Em agosto, a Brigada Militar relata que houve um assassinato na cidade, que não consta nos indicadores oficiais. A BM não deu mais detalhes desta ocorrência.
Moradora do município há 23 anos, a comerciante Rita da Silva, 50, teme pelo bem-estar da família, em especial o filho, de 14. Ela relata que o menino está com medo de sair de casa:
— A gente tá se sentindo muito inseguro e triste. Vimos esses meninos crescerem e todo mundo conhecia. Ficamos inseguros, especialmente, o meu menino. Ele e os amigos estão preocupados com a segurança, algo que não tinha antes, porque a cidade sempre foi calma.
Proprietária de um dos poucos estabelecimentos abertos na Avenida Bento Gonçalves, próximo ao local do crime, nesta segunda, Rita conta que o maior medo é de que haja uma onda de criminalidade na cidade.
— Se dá uma, pode dar duas, né? A cidade é tranquila e todo mundo conhece todo mundo. Agora, por causa disso, a gente fica exposto e tem que viver com medo até para sair de casa. Torço pra não acontecer, mas fico preocupada — lamenta.
Nas ruas de Rolante, em especial nos bairros Centro e Rio Branco, equipes do batalhão do Choque, da Brigada Militar, circulavam pelas ruas para reforçar a segurança. A Polícia Civil enviou um delegado e 10 agentes do Departamento de Homicídios para auxiliar nas investigações.
Segundo o chefe da Polícia Civil, Fernando Sodré, a motivação para o crime seria uma guerra entre facções. Um carro que teria sido usado na ação foi apreendido em Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte. Um homem foi preso com uma arma, coletes à prova de balas e touca ninja. O envolvimento dele com o caso é investigado.
A polícia suspeita que oito pessoas estejam envolvidas na chacina. Os quatro homens mortos a tiros foram sepultados nesta segunda, em diferentes localidades. A Polícia Civil afirma que todos tinham envolvimento com o tráfico de drogas.