Os argumentos apresentados pela banca de advogados que representa Bruna Nathiele Porto da Rosa, 26 anos, madrasta de Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, no julgamento em Tramandaí, no Litoral Norte, seguem a mesma linha detalhada no interrogatório da madrasta. A ré foi ouvida na noite de quinta-feira (4), e admitiu ter torturado a criança e ajudado a ocultar o corpo do menino. No entanto, atribuiu o assassinato à companheira, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 28, mãe do garoto. A defesa da madrasta busca que ela seja condenada pelos dois crimes que confessou, mas inocentada pelo homicídio.
— Ela pode ter torturado psicologicamente, ela pode ter ocultado, como mostra o vídeo. Mas ela não matou o Miguel — sustentou o advogado Ueslei Natã Boeira, o primeiro a falar pela banca.
Bruna acompanhou a fala da defesa atenta, com olhos fixos nos advogados. Logo à frente dela, Yasmin, ao lado da sua defesa, permaneceu a maior parte do tempo de cabeça baixa.
— Ela tem de ser condenada com base naquilo que ela fez — completou Boeira, aproximando-se da cliente.
Na sequência, a advogada Charline Fonseca ressaltou o fato de que Bruna nunca se furtou de falar sobre o caso, e que manteve a versão, de que foi Yasmin quem matou o menino. A madrasta já havia sido ouvida durante audiência na Justiça, na qual havia imputado à mãe do garoto a responsabilidade pelo homicídio. Segundo Bruna, Yasmin era uma pessoa agressiva, costumava espancar e torturar o filho, e teria dopado a criança após bater violentamente no filho.
— A Bruna nunca fez teatro, nunca fez encenações — disse Charline.
O advogado Rafael Santos começou as argumentações falando sobre a gravidade do fato que matou o menino Miguel.
— O que e estamos vivendo hoje é a prova da tragédia humana — afirmou.
Logo depois, lembrou os depoimentos de três testemunhas, os policiais militares Jeferson Segatto e Ícaro Ben-Hur, que atenderam a ocorrência no dia em que Yasmin e Bruna procuraram a delegacia para informar que Miguel havia desaparecido, e o delegado Antônio Carlos Ractz Júnior, que investigou o caso. Santos recordou que foi Bruna quem disse as palavras “Miguel, mala, rio”, levando os policiais a suspeitarem que o garoto tivesse sido arremessado no rio.
— O Segatto disse aqui que a Yasmin falou que quebrou os ossinhos do Miguel para colocar na mala. A Bruna não foi presa naquele dia porque não havia elementos para prender ela naquele momento. Não estou dizendo que a Bruna é santa, é inocente. Apesar de ter cometido a conduta absurda e nefasta, de torturar e matar o Miguel, foi através das palavras desconexas dela, e da senha do celular, que a polícia obteve as primeiras informações — afirmou o advogado.
Na sequência, reiterou que o relato de Bruna durante o júri é o mesmo que ela apresentou na fase policial e judicial. Segundo o advogado, este é o quinto depoimento de Bruna, mantendo a mesma versão.
— Viemos aqui ontem (quinta-feira) e ela respondeu a todas as perguntas do Ministério Público. Foram quase duas horas, dando detalhes. Tudo que a Bruna falou aqui é exatamente o mesmo teor — disse.
Já Yasmin optou por responder somente as perguntas da própria defesa durante o interrogatório. Santos afirmou ainda que quando viu o vídeo gravado pela madrasta, no qual ela aparece ameaçando de espancar Miguel, enquanto o menino está dentro de um armário, cogitou não atuar na defesa da ré.
— A Bruna tem de ser responsabilizada não só pelo vídeo, mas pela forma como ela tratou o Miguel. O menino Miguel foi torturado pela Bruna. Isso é fazer justiça: condenar pelo crime de tortura — argumentou.
Boeira interrompeu o colega para enfatizar que a cliente não interveio em defesa de Miguel porque também era manipulada, ameaçada e espancada por Yasmin.
— Se ela não fizesse, ela também era agredida. Tudo por questão de ciúme. A palavra da Bruna que veio ontem (quinta-feira), falou aqui para vocês, tem de ser levada em consideração — afirmou o advogado.
Tréplica
A defesa de Bruna apresentou seus argumentos finais durante a tréplica, que teve início às 20h. Os advogados voltaram a imputar à Yasmin a culpa pelo homicídio de Miguel. Os advogados argumentam que Bruna foi responsável por torturar o garoto e que acompanhou a mãe do menino até as margens do rio, onde ele foi arremessado. No entanto, negam que ela tenha cometido homicídio.
— Ninguém quer impunidade. A gente quer condenação. Mas uma pena justa. Cinquenta, sessenta anos com base no quê? A Bruna torturou, mas não matou o Miguel — enfatizou o advogado Ueslei Natã Boeira.
Também responsável pela defesa, Rafael Santos lembrou que foi Yasmin quem confessou ter assassinado o filho, e que em nenhum momento Bruna disse ter assassinado a criança. O advogado detalhou o depoimento de Yasmin e o de Bruna, ainda na fase policial. Nos relatos foram indicadas as torturas e agressões que o menino teria sofrido até ser morto.
— Não estou aqui dizendo que a Bruna é santa. Nada disso. Ela tem de ser condenada. Mas ela não matou o Miguel — ressaltou.