
A Polícia Civil trabalha para estabelecer contato com um norte-americano investigado pelo crime de importunação sexual contra uma jovem em Porto Alegre. O homem deixou o Brasil, rumo aos Estados Unidos, poucas horas após o registro do boletim de ocorrência.
A denúncia veio à tona na última segunda-feira (22), quando Kamilly Eduarda da Silva Rodrigues, 19 anos, foi até a 1ª Delegacia de Atendimento à Mulher acompanhada da mãe, a deputada estadual Bruna Rodrigues (PCdoB).
Na ocasião, a parlamentar gravou e publicou um vídeo nas redes sociais, afirmando que a filha sofreu violência sexual durante uma festa no fim de semana. Ela chega a mencionar, ainda, que o suspeito possui vínculo com o governo americano.
De acordo com a Polícia Civil, o homem já foi identificado. Trata-se de um profissional de Tecnologia da Informação (TI) que estava no Brasil prestando serviços ao Consulado-Geral dos Estados Unidos em Porto Alegre.
— Agora, oficialmente, nós sabemos que ele foi embora do Brasil algumas horas depois do registro de ocorrência. Não é nem do registro de ocorrência, mas da publicação que a deputada Bruna fez no Instagram dela. Algumas horas depois ele deixou o país porque ele teria, segundo apuramos, se assustado com a publicação e ficado com medo — relata a delegada Cristiane Ramos.
Até o momento, algumas testemunhas foram ouvidas. O caso ainda se encontra em fase inicial de investigação.
Em entrevista, a delegada, que também é diretora da Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher, relatou que o inquérito passa pelo contato com Ministério das Relações Exteriores.
— O consulado não tem a obrigação de nos prestar informações sobre cidadãos americanos ou de investigados. Quem faz isso é o Itamaraty. Então o nosso contato tem que ser via Itamaraty. No que o consulado pode colaborar, ele colabora. Fomos recebidos lá, mas eles têm uma limitação de regramento — explica.
A Polícia Civil identificou que o suspeito estava no Brasil temporariamente. Ele ingressou no país em 18 de abril e iria embora no dia 27 do mesmo mês. Em contato com as companhias aéreas, os investigadores chegaram à informação de que ele acabou adiantando a saída do país em cinco dias.
Durante uma sessão da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, Bruna Rodrigues relatou o que chegou ao conhecimento dela enquanto cumpria agenda no interior do Estado:
— Minha filha disse que ele já chegou numa abordagem direta. Vários amigos disseram: "deixa ela, é uma menina" e tal. O cara não ouviu, avançou. Num dos pequenos momentos em que a minha filha ficou sozinha, depois dele chegar, encostar, apertar, passar a mão, encurralou ela na parede. Ela pediu ajuda, e os amigos conseguiram tirar ela dessa situação — disse a deputada estadual.
Suspeitos possuem vínculo com consulado
Segundo a Polícia, esse é o segundo episódio no ano em que um prestador de serviços ao consulado americano acaba sendo denunciado por violência contra a mulher em Porto Alegre. No entanto, as investigações revelam, até o momento, que os suspeitos não se conheciam e que os casos não possuem conexão - apesar de ambos terem trabalhado para o órgão dos EUA.
A primeira ocorrência foi protocolada em fevereiro deste ano, quando a delegacia especializada recebeu um relato de estupro. A vítima e o suspeito haviam se conhecido no Tinder, um aplicativo de relacionamentos, passaram a conversar e depois de um tempo decidiram se encontrar na residência dele.
No registro policial, a mulher relatou que, na noite de 18 de janeiro, o suspeito "tirou a roupa dela e praticou sexo sem o seu consentimento e sem o uso de preservativo". A vítima acredita ter sido drogada porque, apesar da consciência e lembrança dos fatos, "não possuía controle sobre o seu corpo e nem conseguia manifestar que não queria ter relação". Foi como se tivesse tomado um relaxante muscular.
A titular da 1ª Deam ressalta que esse inquérito está bem avançado e que o investigado, hoje localizado nos Estados Unidos, manifestou interesse em colaborar. Nos próximos dias, o americano deve ser ouvido por meio de uma plataforma on-line. De acordo com a delegada Cristiane Ramos, a demora para registro da denúncia trouxe dificuldades ao inquérito.
— O boletim de ocorrência foi registrado no dia 4 de fevereiro. Ela narra um estupro de vulnerável, em que ele teria colocado algo na bebida dela. Só que esse lapso temporal prejudicou algumas perícias pra nós. É importante que vítimas de crimes sexuais nos procurem imediatamente, senão acabamos perdendo muitas provas, imagens nesse período — comenta a delegada.
O que diz o consulado
Em manifestação realizada na última segunda-feira, o Consulado-Geral dos Estados Unidos em Porto Alegre informou que tanto a embaixada quanto os consulados tratam todas as alegações de conduta inadequada com seriedade. No entanto, frisam que "por política interna", não comentam questões pessoais.