
Ao assistir ao vídeo de uma menina resgatada em Tramandaí, na semana passada, Kendra Camboim Herrera, 38 anos, viu um filme passar em sua cabeça. Em outubro de 2018, sua filha, Eduarda Herrera de Mello, andava de patins perto de casa, no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre, quando foi abordada por um homem e desapareceu. O corpo dela foi encontrado na manhã seguinte, dentro do Rio Gravataí.
Duda, assim como a criança do Litoral Norte, tinha apenas nove anos. No caso de Tramandaí, a mobilização levou à localização da menina e linchamento do agressor. No crime da Capital, no entanto, não houve desfecho. Até hoje, a mãe não sabe quem foi o homem, num veículo vermelho, que levou a filha dela de perto de casa.
— Quando vi aquela criança do tamanho da Duda gritando, voltou tudo. A minha filha encontrada afogada. Chorei muito — desabafa a mãe.
As semelhanças entre os casos levaram também a polícia a suspeitar que se pudesse se tratar do mesmo autor. Além de as meninas terem a mesma idade, foram raptadas perto de casa, em circunstâncias semelhantes. Soma-se a isso o fato de que o autor do crime em Tramandaí tinha histórico criminal em Porto Alegre.
Em maio de 2020, Marco Antônio Bocker Jacob, 61 anos, foi preso após atacar uma adolescente de 17 anos no Rubem Berta, mesmo bairro onde Duda sumiu. Ele levava a vítima amarrada, num carrinho de mão, sob um cobertor, quando o crime foi descoberto.
No entanto, nesta terça-feira (4), o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, afirmou que a possibilidade de se tratar do mesmo criminoso foi descartada, por meio de comparativo genético.
— Havia uma série de detalhes que nos remetia para a possibilidade de ser o mesmo autor. Mas isso, infelizmente, não foi confirmado — disse Sodré.
Kendra também chegou a cogitar que pudesse se tratar do mesmo autor, ao saber que ele já havia residido na zona norte de Porto Alegre. Nesta terça-feira, a mãe soube pela reportagem que o resultado do exame foi negativo.
Depois de mais de seis anos aguardando por respostas, Kendra está exausta e teve as esperanças esvaziadas.
— Nunca vou desistir dela. Mas continuo com o sentimento de injustiça. Já não sei mais o que pensar. Não pode existir um crime perfeito. Não é aceitável isso. Mas não acredito que estejam realmente procurando o culpado por isso — lamenta.
O sumiço de Duda
Duda brincava de patins com o irmão e uma vizinha, ambos então com seis anos, em frente de casa, na Rua Inácio Kohler. A rampa de acesso à garagem da residência era o lugar predileto da menina para fazer as acrobacias. A mãe entrou na casa por alguns minutos para orientar um eletricista, que havia sido acionado em razão de falhas na energia da residência. Minutos depois, Kendra retornou para a rua e não avistou mais a filha.
— Cadê a Eduarda? — perguntou aos vizinhos.
Ninguém sabia a resposta. A mãe se desesperou e foi até um bar onde Duda costumava comprar guloseimas, ali perto. No retorno, outra criança, vizinha e amiga de Eduarda, relatou ter visto a menina conversando com o motorista de um veículo vermelho.
— Ele perguntou se a gente queria ir comprar casaco. Eu falei que não podia porque a minha mãe ia brigar comigo. A Duda ficou ali— narrou a garota.
A polícia foi acionada, enquanto familiares e vizinhos faziam buscas pela criança. A procura se estendeu madrugada adentro. Ao amanhecer, a mãe foi informada de que uma menina havia sido encontrada sem vida às margens da RS-118, em Alvorada. Quando se aproximou do local isolado, Kendra foi contida. Assim que conseguiu cruzar a barreira, confirmou o que mais temia.
Após a morte de Duda, a família organizou protestos pedindo uma solução para o crime. O caso foi remetido ao Judiciário em 2022, sem respostas para a autoria e sem indiciamento. A Polícia Civil afirma, que apesar de o caso já ter sido remetido sem desfecho, qualquer nova pista do crime será investigada.
— Infelizmente, o confronto deu negativo, ou seja, continuamos ainda na busca do autor do caso da Eduarda — diz Sodré.