Mais um pavilhão do Presídio Central virou pó nesta terça-feira (30), em Porto Alegre. Depois de uma semana de trabalho, a derrubada da galeria F foi concluída. Após a limpeza de entulhos, prevista para os próximos dias, o local dará espaço à nova estrutura que vem sendo erguida. A expectativa é de conclusão até janeiro de 2024. Retrato do caos no sistema carcerário, o Central virou símbolo de violação de direitos e já foi considerado o pior presídio do país. Com as novas instalações, o governo pretende deixar esse cenário no passado.
Para iniciar a derrubada do F, foram transferidos do Central 529 presos, nos dias 11 e 15 de maio. No dia 23, a demolição foi iniciada, com a limpeza do local e a destruição de um dos muros.
Apenas dois pavilhões seguem em pé, o A, já esvaziado, e o B, que ainda abriga 829 apenados. Eles ainda serão demolidos antes do fim das obras.
No espaço desses três prédios, serão construídos seis módulos de vivência, com 1.320 vagas, que se somam aos três que já estão prontos. No total, as nove galerias vão comportar 1.884 presos, em uma área construída de cerca de 14 mil metros quadrados.
A demolição do presídio já é debatida por governos gaúchos há mais de 10 anos, e virou uma das principais promessas da atual gestão no campo da segurança pública. A obra foi iniciada em julho de 2022, com investimento total de R$ 116,7 milhões. O trabalho é feito pela Verdi Sistemas Construtivos.
Para o titular da Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS), secretário Luiz Henrique Viana, a entrega de um novo Central é um marco para o Estado e representa o compromisso da gestão com o trabalho de ressocialização de detentos do sistema gaúcho.
— A readequação vai ser mais um marco no Estado, é o fim de um prédio histórico. Com essa entrega, nós faremos história, vamos apagar um passado que foi vergonhoso para toda a sociedade do Rio Grande do Sul. Vamos transformar um lugar de degradação, que não tinha a mínima condição de tratar o ser humano com a dignidade que merece, em um modelo de presídio. Isso tudo para que possamos ressocializar as pessoas privadas de liberdade, oferecer melhores condições de trabalho para os servidores e, ao mesmo, dar mais segurança a sociedade — pontua Viana.
Estrutura mais resistente
O modelo de construção utiliza celas compostas por concreto de alto desempenho com incorporação de fibras de polipropileno. Os módulos chegam prontos ao local e são instalados lado a lado, um sistema de montagem que torna o processo mais rápido, na comparação com obras tradicionais. É o mesmo utilizado em outros locais, como na Penitenciária Estadual de Canoas.
Segundo o governo do Estado, os módulos têm maior durabilidade e resistência a impactos, quando comparado a obras que usam materiais convencionais. Portanto, "a integridade da estrutura não será gravemente afetada, mesmo que ocorram tentativas de depredação por parte dos apenados", afirma o Executivo.
No espaço interno dos módulos, ficam as celas e os locais de convivência, como pátio coberto e de sol, áreas para visitas e atendimento jurídico. Na parte externa, ficam as torres de controle e serviços, com reservatórios, casa de bombas, central de gás GLP, gerador de água quente e de energia e subestação. Da estrutura velha, devem ser mantidos o espaço onde fica a parte administrativa, ocupada por servidores, e a área de cozinha dos presos, que passará por reforma.
Outro diferencial da construção é que o novo presídio será "mais horizontal", com as celas no mesmo nível, e não mais em prédios. Acima delas, haverá apenas um andar que será usado por agentes. A abertura e fechamento das grades, assim como a comunicação com os presos, será feita sem necessidade de contato direto com os detentos, alternativa que traz mais segurança ao servidor.
O material utilizado nas celas e nos móveis novos são resistentes a fogo, a incombustibilidade e a baixa condutividade térmica. Assim, o risco de início e propagação de chamas é "considerado praticamente nulo", afirma o governo.
— Estamos recebendo um prédio com tecnologia de construção nova, com estrutura reforçada, conforto térmico e condições dignas para o cumprimento das penas — diz o secretário.
A obra no Central
- Vagas: 1.884
- Investimento: R$ 116 milhões
- Previsãio de conclusão: janeiro de 2024, com finalização do projeto, todas as nove galerias entregues e demolição do antigo prédio