Com um modo de ação que não era registrado havia pelo menos quatro anos no Estado, criminosos saquearam de forma discreta uma agência bancária no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Conseguiram ingressar no prédio e acessar o cofre, quase de forma imperceptível. O crime só foi descoberto no dia seguinte, quando funcionários chegaram para trabalhar. Um mês depois, a polícia segue atrás da quadrilha, que demonstrou expertise nesse tipo de empreitada.
A agência Estilo do Banco do Brasil, alvo da ação, fica na esquina das ruas Padre Chagas e Hilário Ribeiro, em área movimentada do Moinhos, cercada de prédios comerciais e restaurantes. Ainda assim, o grupo, que seria formado por quatro a cinco integrantes, conseguiu concluir toda a ação sem ser flagrado. Na manhã de 9 de janeiro, uma segunda-feira, quando os funcionários chegaram para trabalhar na agência, depararam com o cofre vazio. Havia ainda um buraco aberto na parede da sala do cofre, que ligava o cômodo a um banheiro.
A equipe da 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), analisou inicialmente as câmeras de dentro da agência para tentar entender o caminho feito pelos bandidos. Também passou a buscar imagens de câmeras das proximidades que pudessem ajudar a esclarecer quem são e de que forma os criminosos entraram no local. Descobriram que o ponto de partida para a entrada no banco foi um imóvel, que estava para locação na Hilário Ribeiro. A polícia ainda apura como eles ingressaram nesse primeiro prédio, mas uma das hipóteses é de que tenham conseguido cópia das chaves.
O grupo teria chegado ao imóvel desocupado na madrugada anterior e, a partir dali, dado seguimento ao plano para chegar ao interior do banco. Do telhado vizinho, desceram até o terraço da agência e conseguiram entrar numa primeira sala. Dali, acessaram um banheiro, que fazia ligação com a área onde estava o cofre. Removeram um sanitário e quebraram a parede, possivelmente com marretadas. Depois disso, usaram uma técnica que não era registrada havia algum tempo.
Túnel de papelão
Por meio do buraco aberto na parede, criaram uma espécie de túnel feito com papelão que levava diretamente ao alvo. Além de impedir a visualização por meio das câmeras, o túnel teria como objetivo evitar o acionamento dos sensores de movimento do alarme. Por meio dessa estrutura rudimentar, conseguiram chegar à lateral do cofre, sem que as câmeras flagrassem quem eram os autores. Assim que se aproximaram do cofre, pouco depois das 6h do domingo, dia 8 de janeiro, usaram ferramentas para acessar o interior dele. Pelo tipo de corte, a suspeita é de que tenham utilizado uma esmerilhadeira — o uso de maçarico, por exemplo, foi descartado.
— Eles foram única e exclusivamente para subtrair valores do cofre — diz o delegado João Paulo de Abreu, da 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos.
Após abrir o cofre, os bandidos conseguiram retirar os valores em reais, dólares e euros que estavam armazenados. Inicialmente, foi divulgado que cerca de R$ 800 mil tinham sido levados. No entanto, segundo o delegado, essa quantia não se confirmou nos relatórios posteriores encaminhados pelo banco. O valor levado pelos bandidos seria inferior a esse, embora ainda represente soma elevada.
— De fato houve subtração de valores altos, significativos, que acabam capitalizando esses grupos criminosos — diz o policial, que não quis detalhar o total furtado.
Casos anteriores
Esse tipo de técnica, com emprego de túnel de papel e ferramenta de corte, foi usada, por exemplo, em março de 2019, por um grupo de criminosos que atacou uma agência do Itaú, na Avenida Assis Brasil. Naquela oportunidade, no entanto, a Delegacia de Roubos conseguiu impedir que o crime se concretizasse e prendeu três suspeitos. Dois estavam dentro do banco quando os agentes chegaram, após acessarem o local por um prédio vizinho, também desocupado, e abrirem buraco na parede. Um deles foi capturado e outro conseguiu escapar. Mais dois suspeitos de estarem monitorando a ação do lado de fora foram presos.
Um dia antes, a polícia havia desarticulado uma quadrilha que agia exatamente desta forma, com uso de informações privilegiadas, invadindo imóveis vizinhos para chegar até o interior das agências e limpar os cofres. Naquele período, o grupo tinha atacado pelo menos cinco bancos. Depois desses fatos, esse tipo de ocorrência tinha cessado, voltando a se repetir agora.
Grupo especializado
A polícia suspeita de que os criminosos que atacaram a agência no Moinhos sejam ladrões com experiência nesse tipo de ação, que possivelmente tenham deixado recentemente o sistema prisional e se aliado a outros.
— A forma como foi executado nos remete a fatos anteriores e grupos criminosos que se dedicam a esse tipo de furto no nosso Estado, que foram objeto de outras investigações e estão em liberdade. Não é um fato inusitado. Mas demanda prévio conhecimento, preparação, expertise — diz o delegado Abreu.
Sobre as informações obtidas pelo grupo, que permitiram precisar qual parede dava acesso à sala do cofre, o delegado explica que uma das possibilidades é que tenham sido repassadas por alguém que tenha prestado algum tipo de serviço na agência.
— Não é uma informação extremamente privilegiada — esclarece o delegado.
Segundo o policial, a investigação trabalha no momento para reunir provas contra suspeitos de envolvimento no crime e tentar recuperar a soma levada pelo grupo.
— O quanto antes pretendemos dar uma resposta adequada, visando a responsabilização dos indivíduos — diz Abreu.
Caso em Canoas
No início deste mês, um outro caso de tentativa de furto a uma agência bancária foi registrado em Canoas, na Região Metropolitana. Em 5 de fevereiro, a Brigada Militar foi acionada em razão do possível arrombamento de uma agência da Caixa Econômica, no bairro Mathias Velho. Uma equipe da Polícia Federal foi até o local, onde foi descoberto um buraco na parede, nos fundos da agência.
No entanto, segundo a PF, não foram detectados indícios de que alguém tenha entrado na agência e nem sinal de que o furto tenha se concretizado. Imagens das câmeras de segurança foram solicitadas ao banco, mas, segundo a PF, os vídeos ainda não tinham sido recebidos até esta terça-feira (14). Segundo a Polícia Civil, não há como afirmar no momento se os dois casos tiveram participação do mesmo grupo.
Colabore
Quem tiver informações que ajudem a esclarecer esse fato ou outro crime contra estabelecimento bancário pode entrar em contato com a 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos do Deic pelo telefone (51) 98608-5980.