Depois de deflagrar na última terça-feira (19) uma megaoperação em 38 cidades do Rio Grande do Sul e de mais três Estados contra lavagem de dinheiro, a Polícia Civil divulga neste sábado (23) que uma parte dos mais de 200 investigados por integrar uma facção criminosa que tem base no Vale do Sinos estava se articulando para agir em Santa Catarina. O objetivo era capitalizar ainda mais o tráfico de armas e drogas. Os suspeitos planejavam roubos de carros de luxo na Praia de Jurerê Internacional, em Florianópolis.
Os integrantes da organização criminosa gaúcha não miravam somente o roubo de veículos, mas também extorsões e roubos de mansões ou apartamentos de luxo. Ou seja, a polícia apura que eles pretendiam roubar o carro e já manter as vítimas reféns, exigindo valores em dinheiro ou fazendo saques bancários, além de levá-las até suas residências para roubar demais objetos.
O titular da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Mario Souza, informa que a investigação realizada durante um ano e meio pela 1ª Delegacia de Sapucaia do Sul conseguiu confirmar que já havia ladrões rondando várias ruas de Jurerê Internacional em busca de automóveis. Segundo ele, as comprovações ocorreram nos primeiros meses deste ano.
Os fatos foram comprovados por meio de escutas telefônicas e de áudios obtidos em celulares apreendidos com os investigados. Em uma das gravações, os criminosos — que chegaram a gravar um vídeo deles mesmos procurando um Porsche na praia catarinense — informam que pretendem abordar uma vítima e depois exigir dinheiro dela, da mesma forma que teriam feito em Tubarão, outro município do Estado vizinho.
Souza diz que tudo está sendo apurado, inclusive o possível roubo em Tubarão e se houve também algum ataque a vítimas em Jurerê Internacional.
Investigação
O titular da 1ª Delegacia de Sapucaia do Sul, delegado Gabriel Borges, diz que a investigação continua devido a este fato, mas também porque seguem as apreensões de materiais oriundos da lavagem de dinheiro, bem como porque ainda há 12 foragidos.
Dos 58 mandados de prisão que foram cumpridos, três suspeitos obtiveram liberdade nos últimos dias. Dos 102 veículos sequestrados judicialmente, 52 já foram apreendidos, um deles um Porsche avaliado em R$ 500 mil. Só de veículos, o valor chega a R$ 10 milhões. Também foram confiscados 38 imóveis, um deles em um condomínio de luxo em Porto Alegre que foi avaliado em R$ 2 milhões. Em imóveis, o valor chega a R$ 40 milhões.
Borges diz que os demais carros que ainda não foram apreendidos, assim como as duas aeronaves, já foram sequestrados judicialmente e os policiais estão, aos poucos, resgatando os veículos. Ainda serão analisadas operações feitas pela facção na bolsa de valores de São Paulo e as 190 contas bancárias em nome de laranjas no Estado, em Santa Catarina, Paraná e até em Mato Grosso do Sul.
A organização criminosa lavou mais de R$ 50 milhões de crimes como tráfico internacional de drogas — os entorpecentes chegavam de Paraguai e Bolívia, porém, a facção já iniciava conexões também com Colômbia e México — e tráfico de armas — como fuzil e submetralhadoras —, além de comércio ilegal de pedras preciosas, roubo de automóveis e extorsões.
Participaram da megaoperação 1,3 mil agentes de Polícia Civil, Brigada Militar, Bombeiros, Polícia Rodoviária Federal, Superintendência dos Serviços Penitenciários e Departamento Penitenciário Nacional. Foram cumpridas 1368 ordens judiciais.