A Paola tinha 32 anos, um filhinho, trabalhava e morava em São Francisco de Assis, na fronteira oeste. Pediu socorro. Conseguiu uma medida protetiva de urgência. A Polícia foi até a casa do ex-companheiro procurando armas. Não encontrou. Paola seguiu a vida. Foi assassinada por ele dias depois, quando voltava do trabalho. Como se não bastasse o primeiro ataque, na frente do filho, o homem ainda seguiu o carro dela quando vizinhos dirigiam até o hospital para socorrê-la. Ele não se intimidou. Desceu da moto e atirou de novo, acabando com as chances de sobrevivência. O assassino depois foi para a internet para pedir desculpas aos próprios pais pelo que tinha feito.
Outras oito mulheres morreram nas primeiras semanas de janeiro de 2025 no Rio Grande do Sul simplesmente por serem mulheres. Os homens, criminosos e covardes, se acharam no direito de tirar a vida delas por não concordarem com decisões judiciais, ciúmes, descontentamento pelo fim do relacionamento ou porque achavam que eram donos das escolhas delas.
As forças de segurança não conseguem conter esse tipo de crime pela complexidade do que ocorre. Há mulheres que não denunciam por medo, outras porque não têm como se sustentar ou criar os filhos, ou porque não têm para onde ir. Não tem rede de apoio, não tem certeza de que será de fato protegida com uma medida protetiva, não é bem atendida quando consegue enfim denunciar.
NOVE MULHERES FORAM MORTAS NAS PRIMEIRAS SEMANAS DE JANEIRO NO RIO GRANDE DO SUL. VOCÊS TÊM A DIMENSÃO DISSO? PODERIA TER SIDO A TUA IRMÃ. A TUA FILHA. A TUA AMIGA. SIMPLESMENTE PORQUE ELA NÃO QUIS MAIS AQUELE CARA. PORQUE NÃO AGUENTAVA MAIS APANHAR, FÍSICA OU PSICOLOGICAMENTE. IMAGINE SE NOVE PESSOAS COM AS MESMAS CARACTERÍSTICAS FOSSEM MORTAS EM 20 E POUCOS DIAS. ISSO NÃO DEVERIA NOS INDIGNAR? SE NOVE HOMENS FOSSEM MORTOS POR SUAS ESPOSAS HAVERIA UMA COMOÇÃO. OU NOVE POLICIAIS, NOVE DEPUTADOS, NOVE GARIS, EMPRESÁRIOS, GATOS, CACHORROS. QUALQUER GRUPO QUE A GENTE POSSA IMAGINAR NOS MOBILIZARIA. POR QUE AS MULHERES SEGUEM MORRENDO E A GENTE NÃO FAZ NADA?
Se este parágrafo escrito em caixa alta te incomodou ou te deixou desconfortável, que bom. Eu estava gritando mesmo, não só com a minha voz, mas com a de milhares de mulheres. Minha colega Kelly Matos fez as comparações que usei aqui, refletindo que a vida segue igual, morram quantas morrerem. Só que esse grito não pode ser somente nosso. Esse assunto não é para mulheres, é para a sociedade. Esse grito não é de esquerda ou de direita, é humano. É um pedido de socorro de quem não aguenta mais ver mulheres sendo mortas e Paolas sendo tratadas como números.