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Em audiência que apura a responsabilidade pela morte de Miguel dos Santos Rodrigues, de sete anos, a madrasta da criança, Bruna Nathiele Porto da Rosa, disse que a mãe do garoto, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, é a responsável pela morte e ocultação do cadáver da criança. Afirmou ainda, em depoimento nesta sexta-feira (19), que Yasmin agredia Miguel "constantemente".
A mãe do menino se recusou a prestar depoimento e foi retirada da sala de audiências.
As rés foram denunciadas pelo Ministério Público e respondem por tortura, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. A criança é considerada desaparecida desde 29 de julho, quando o Corpo de Bombeiros iniciou as buscas. Até hoje o menino não foi encontrado.
O depoimento de Bruna foi concedido ao juiz Gilberto Pinto Fontoura, da 1ª Vara Criminal e do Júri de Tramandaí, e ao promotor de Justiça André Luiz Tarouco Pinto. Ao magistrado, Bruna confirmou agressões que foram apuradas durante a investigação policial e disse que Miguel foi dopado e colocado em uma mala após ficar horas trancado em um poço de luz. Esta ação teria ocorrido em 27 de julho, dia em que câmeras de segurança flagraram mãe e companheira carregando o objeto nas ruas de Imbé.
Bruna disse, durante o depoimento, que antes da morte de Miguel, ele teria sido intensamente agredido pela mãe, o que explica inclusive uma marca na parede do quarto da pousada onde os três viviam em Imbé, no Litoral Norte. Posteriormente, a criança teria ficado horas dentro de um poço de luz e dentro de um armário, o que seria uma forma de castigo. Na sequência, com a criança já morta, houve o desfecho com a ocultação do corpo do menino.
O promotor insistiu que Bruna explicasse a falta de ação para conter o suposto comportamento violento de Yasmin Vaz. A madrasta disse então que estaria sofrendo ameaças físicas, quando o promotor questionou se ela estava mais preocupada com a própria integridade física, considerando o risco de morte do menino.
— Ela sabia exatamente como me controlar — disse Bruna.
O promotor ainda trouxe à tona uma fala por mensagens de Bruna com uma cunhada, resultado da análise pericial do telefone da ré. Na conversa, ela reclamava do menino e disse que ele estaria “estragando” o relacionamento da madrasta com a mãe de Miguel. Em sua versão, Bruna disse que não lembrava das mensagens.
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A madrasta se recusou ainda a falar ao ser questionada sobre o vídeo em que ela aparece ameaçando o menino de o tracar em um armário, Bruna se recusou a falar.
Além delas, 25 pessoas prestaram depoimentos, incluindo a proprietária da pousada, que disse praticamente não ter visto o menino durante os meses em que elas moraram no local.
Contraponto
Os advogados de Yasmin Vaz não descartam solicitar anulação do processo, já que ocorreram três depoimentos que não eram de conhecimento da defesa. Além disso, uma nova prova foi apresentada pelo delegado Antônio Carlos Ractz e inserida ao processo.
— A defesa foi surpreendida em ouvir três policiais que não tinham sido arrolados até então. Esse é mais um fator que deixou Yasmin nervosa e surpresa com essas mudanças dentro do processo — disse o advogado Felipe Trelles.
A defesa da mãe do menino também pediu a suspeição do juiz do caso. O magistrado se emocionou ao ouvir de Bruna que o corpo da criança foi colocado em uma mala e jogado no Rio Tramandaí. O juiz negou parcialidade e deve seguir a frente do caso.
A advogada Helena Von Wurbm, da defesa de Bruna, ressaltou que a cliente dela se declara inocente. A jurista disse que a madrasta de Miguel ficou nervosa com os vídeos e a pressão do promotor, por isso encerrou as respostas às perguntas da Promotoria:
— Ela está muito abalada pela morte de uma criança e muito arrependida de não ter impedido esse desfecho. Ela reconhece os erros de sua parte, mas não tem participação no crime.
Relembre o caso
O Corpo de Bombeiros iniciou em Imbé as buscas por Miguel dos Santos Rodrigues em 29 de julho. Ele morava com a mãe e companheira dela em uma pousada da cidade do Litoral Norte.
Em denúncia, o Ministério Público disse que o menino era agredido pela dupla, sendo inclusive colocado dentro de um armário como forma de castigo. Em peça acusatório, o MP ressalta que Miguel foi assassinado.
A investigação revelou que a mãe e a madrasta do menino andaram cerca de dois quilômetros com uma mala em que estaria o corpo do menino. Imagens de câmeras de segurança flagraram as duas carregando o objeto, supostamente com a criança dentro.
Em análise pericial, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmou que o DNA encontrado dentro da mala é o do menino, bem como o sangue identificado em uma camiseta e em uma corrente. As buscas foram suspensas pelo Corpo de Bombeiros depois de 48 dias. Até hoje, o corpo não foi encontrado.