
O pagamento por laudos que atestavam falsas doenças é o ponto nevrálgico do esquema que propiciou fugas de chefes do crime que estavam em presídios gaúchos. Esta é a principal constatação da Operação Hipocondríacos, desencadeada nesta terça-feira (25) pelo Ministério Público do RS.
A ação, coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), realiza buscas e apreensões em domicílios ligados a médicos, advogados e pessoas envolvidas com uma facção gaúcha dominante na zona leste de Porto Alegre.
O Gaeco não revela os nomes dos alvos, mas a reportagem apurou que um deles é o traumatologista Guilherme Fernandes e outro, uma advogada, Bruna Castelo Branco Ritter. Conforme o MP, no esquema investigado médicos elaboravam laudos falsos de doença para presos a um custo de R$ 8 mil. Mediante a simulação de um problema de coluna, por exemplo, o apenado pedia para cumprir a pena em casa (prisão domiciliar).
Mas existiam formas mais sofisticadas de golpe. É o caso de cirurgias falsas: o preso era levado a um hospital, anestesiado e saia de lá como se tivesse sido operado. Depois de ficar em sua residência, fugia. Por esse procedimento, os médicos estariam cobrando R$ 60 mil, diz o Ministério Público.
Parte do dinheiro arrecadado era disfarçado em investimentos em construtoras, empresas de gestão de condomínios e de recursos humanos. Até por isso, os envolvidos serão também processados por lavagem de dinheiro. Os alvos sofreram busca e apreensão em seus domicílios, mas não foram presos.
A reportagem tenta contato com a defesa dos investigados.