Uma operação policial foi deflagrada nesta quinta-feira (25) para prender sete integrantes de uma facção criminosa que está instalada na Ilha do Pavão, em Porto Alegre. Pelo menos desde 2015, este grupo está em guerra com outro pela disputa por pontos de tráfico na Ilha Grande dos Marinheiros — conflito que já causou 11 ataques, deixando 10 pessoas mortas e oito feridas.
A ação desta manhã cumpriu sete mandados de prisão preventiva contra suspeitos de matarem um adolescente e ferir mais cinco pessoas — entre elas, duas crianças — no final de fevereiro. Até 7h, três suspeitos haviam sido detidos.
Ao todo, 45 policiais civis, com cães farejadores, viaturas, helicóptero e até um barco — para evitar que criminosos possam fugir a nado — desencadearam a chamada Operação Island. Também foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão.
No dia 20 de fevereiro, membros da facção que fica na Ilha do Pavão se armaram, inclusive gravaram vídeo do fato, com o objetivo de executar pelo menos três integrantes da organização criminosa que atua na Ilha Grande dos Marinheiros. A delegada Roberta Bertoldo, titular da 2ª Delegacia de Homicídios e que coordena a ação nesta quinta-feira, diz que o grupo invadiu várias casas.
— Eles entraram em várias casas procurando por esses três alvos, ameaçaram as pessoas, sempre perguntando por estes três rivais. Apontaram armas, mandaram deitar no chão e foram fazendo isso em várias residências até chegar na casa onde queriam. Mas, neste caso, do lado de fora da casa de madeira, deram vários tiros, mirando a casa e atingindo todos que estavam lá — conta Roberta.
A informação inicial, na época dos fatos, é de que foram pelo menos 20 tiros. O adolescente Alessandro Santiago Bastos, 15 anos, foi morto no local. Ele era namorado da filha do homem que estava sendo procurado pelos criminosos. Este homem, que estava na residência, foi baleado. Além dele, duas mulheres e duas crianças de três e quatro anos de idade ficaram feridos. Todos da mesma família.
Investigação
A partir deste fato, a equipe da 2ª Delegacia de Homicídios passou a investigar os crimes e descobriu sete envolvidos: cinco que estão na Ilha do Pavão e que seriam os executores, além de dois mandantes que estão no sistema penitenciário.
O diretor da Divisão de Homicídios de Porto Alegre, delegado Eibert Moreira, informa que esta guerra do tráfico entre integrantes de facções rivais se acirrou depois do retorno de um dos líderes para o sistema penitenciário gaúcho. O criminoso estava detido em presídio federal fora do Estado. Um dos mandados de prisão sobre o homicídio e as tentativas é contra ele e foi cumprido no Presídio Central.
A polícia não divulgou o nome, mas GZH descobriu que se trata de Rafael Telles da Silva, o Sapo, 33 anos.
Ataques
Segundo levantamento feito pela delegada Roberta, desde 2015, a guerra do tráfico entre Ilha do Pavão e Ilha Grande dos Marinheiros já teve pelo menos 11 ataques registrados, causando 10 mortes e deixando oito pessoas feridas.
Assim como o caso do adolescente morto em fevereiro deste ano, atingido por tiros apenas por estar no mesmo local do alvo dos criminosos, a polícia apurou que, em novembro de 2015, os irmãos Timóteo Felipe e Lázaro Felipe foram mortos por engano na Ilha do Pavão. Na ocasião, moradores denunciaram que ocorria até mesmo toque de recolher no local.
Quase dois aos depois, em julho de 2017, na mesma ilha, foi executado Maximiliano Antônio de Brito — uma pessoa que estava com ele ficou ferida. Para revidar este ataque, integrantes da facção executaram horas depois a mãe de um dos integrantes do grupo rival. Os crimes não tiveram continuidade porque a Brigada Militar interferiu e evitou, na época, um novo confronto ao prender cinco traficantes e apreender três adolescentes.
Já em janeiro de 2018, um grupo disparou vários tiros contra residências na Ilha do Pavão, com o objetivo de retomar pontos de tráfico. O fato deixou uma pessoa ferida por bala perdida. Na fuga do local, após a facção rival revidar, o grupo de cinco criminosos estava dentro de um carro, e um deles disparou uma arma sem querer. Com isso, um dos integrantes morreu no local e o motorista perdeu o controle do veículo, batendo em um cavalo e em uma árvore. Os outros quatro criminosos roubaram um barco para dar continuidade à fuga e dois deles morreram afogados após a embarcação afundar.
Também em janeiro de 2018, mãe e filha foram executadas dentro de casa na Ilha do Pavão: Andréia Adelaide Leal Castro, 45 anos, e a filha Andressa Castro de Brito, 18 anos.
Em 2019 houve outro ataque a tiros, com uma pessoa ferida, e, em novembro do ano passado, a Brigada Militar trocou tiros com um grupo armado na Ilha Grande dos Marinheiros. Não houve feridos, mas foram presos dois homens e apreendidos dois adolescentes em um carro furtado.