Suspeito de estuprar uma mulher durante assalto em Porto Alegre e tentar violentar outras duas, um foragido, com extenso histórico criminal, foi preso nesta sexta-feira (02) pela Polícia Civil. Carlos Alexandre da Silva, 45 anos, havia deixado a cadeia em março, por risco de contaminação por coronavírus. Ele é suspeito de ter violentado uma manicure de 39 anos na tarde de 5 de julho no limite entre os bairros Moinhos de Vento e Bela Vista. O preso também foi identificado em outros dois casos, nos quais as vítimas conseguiram escapar.
Desde julho, a equipe da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Alegre vinha tentando localizar o foragido. Ao longo desta semana, os policiais descobriram que ele estaria dormindo em alguns locais no Centro Histórico. Na manhã desta sexta-feira, capturaram o foragido nas proximidades da Praça XV de Novembro.
— Chegamos perto de prendê-lo várias vezes. Hoje conseguimos descobrir o ponto exato e monitoramos por cerca de duas horas na chuva, até que ele foi localizado por volta de 11h20min — detalhou a delegada Tatiana Bastos, que investiga o caso.
Com o foragido, a polícia encontrou um simulacro de arma de fogo. Também foi apreendido um guarda-chuva, que seria usado para tentar facilitar a abordagem às vítimas e evitar as câmeras de segurança. No caso da manicure, o criminoso caminhou com ela até o local onde aconteceu o estupro, usando o guarda-chuva para evitar que outras pessoas percebessem que ela estava sendo ameaçada com uma faca.
Além da manicure, a polícia identificou o foragido como suspeito de outros dois casos. Em 21 de maio, por volta do meio-dia, uma jovem foi abordada em uma parada de ônibus nas proximidades do shopping Praia de Belas. O criminoso teria tentado obrigar a vítima a seguir com ele, mas conseguiu escapar e pedir socorro. Em 20 de setembro, outra mulher também foi abordada nas proximidades do Parcão, no bairro Moinhos de Vento. Mas ela também conseguiu fugir.
— As duas relataram que a intenção dele era cometer o estupro. Da mesma forma que fez com a outra vítima, queria que elas fossem com ele. Usou uma faca para ameaçá-las. Não conseguiu consumar porque elas conseguiram escapar. Mas estão todas recebendo tratamento psicológico porque ficaram bastante abaladas — disse Tatiana.
A policial alerta para o fato de que nem sempre os casos de violência sexual acontecem em locais ermos e à noite. Pelo contrário, muitas mulheres acabam sendo alvo em pontos movimentados e durante o dia. O preso será submetido a reconhecimento pessoal e encaminhado para coleta de material genético.
Em depoimento à Polícia Civil, Carlos Alexandre se reservou o direito de manter-se em silêncio. GZH tenta contato com a defesa dele para contraponto.
"Posso tentar voltar para minha rotina"
No início de setembro, a manicure de 39 anos disse em entrevista a GZH que vivia com medo e passava por tratamento psicológico, para tentar superar o trauma. Moradora da Região Metropolitana, ela foi violentada sexualmente no pátio de uma residência desocupada, na Rua Coronel Bordini, após ser abordada no caminho para a casa de uma cliente.
— Agora posso dizer que foi feita Justiça. Não vou ter medo de andar na rua. Posso tentar voltar para minha rotina. Pensei que era só mais uma. Agora vou ficar em paz — disse nesta sexta-feira ao saber da prisão.
Prisão domiciliar
Condenado a 90 anos e sete meses, por casos envolvendo assaltos e estupros, o preso cumpriu 27 anos e nove meses. Até o fim de março, era mantido na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan III). Por conta da pandemia, recebeu direito de permanecer em casa por 90 dias. Para isso, deveria ser monitorado com uso de tornozeleira eletrônica. A decisão judicial, do dia 24 de março, previa que em 48 horas ele deveria se apresentar para a instalação do equipamento. Mas isso não chegou a acontecer.
O preso compareceu no dia 26 de março na Divisão de Monitoramento Eletrônico, na Capital, mas foi orientado a entrar em contato com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) em 30 dias para colocação da tornozeleira. Até a data da instalação, deveria permanecer em casa. No dia 20 de abril, foi feito um registro de tentativa de contato por telefone, mas ele não teria atendido. Em 12 de maio, uma equipe teria se deslocado até a residência, mas novamente não foi encontrado. Depois disso, passou a ser considerado foragido.
Contrapontos
Judiciário
Conforme o juiz Paulo Augusto Oliveira Irion, a decisão foi tomada tendo por base a resolução nº. 62 do Conselho Nacional de Justiça, estando o apenado no grupo de risco em relação à covid-19, de acordo com a informação da própria unidade prisional onde se encontrava recolhido.
Secretaria da Administração Penitenciária
A Seapen informou que naquele momento ainda não havia condições sanitárias para instalação da tornozeleira. Segundo a secretaria, os protocolos de segurança estavam sendo ajustados, por isso, foi estabelecido prazo de 30 dias para que o preso retornasse e instalasse o equipamento.
Carlos Alexandre Silva
Em depoimento à Polícia Civil, Carlos Alexandre se reservou o direito de manter-se em silêncio. GZH tenta contato com a defesa dele para contraponto.